Pagar aos professores os dias parados é a segunda condição mais importante para o fim da greve. É a mais comentada, mas existe um pressuposto sem o qual nenhum acordo entre governo e Cpers poderá ser considerado legítimo: recuperar as aulas que não foram dadas. Não apenas a carga horária, mas o conteúdo que os alunos deixaram de receber. Pensando na sociedade de uma forma mais ampla, a apresentação de um plano completo de compensação deveria ser condição básica para qualquer começo de conversa.
Não resta dúvida de que a indignação e os pleitos dos professores gaúchos são legítimos. Mas, de fato, a greve de quase dois meses não teve qualquer efeito prático na melhora das condições de trabalho de uma das categorias mais importantes quando se pensa na construção de um futuro melhor. Os verdadeiros punidos pela paralisação, os pais e alunos que já sofrem, a exemplo do magistério, com o sucateamento do ensino público, estão sem voz nessa queda de braço entre sindicato e governo. Trata-se de um estranho caso de maioria silenciosa.
Governo e Cpers devem se encontrar novamente, até quarta-feira, ao que tudo indica, para selar um acordo que ponha fim a essa greve inoportuna e inútil. Não é apenas a minha opinião, mas também a de milhares de professores que não aderiram a ela. Cabe aos grevistas explicarem em detalhes como recuperarão as aulas. E, ao governo, fiscalizar para que o lado mais fraco não pague a conta.