Só Humberto Gessinger estava grudado no celular, reclinado na cadeira da espécie de antessala aberta e contígua ao estúdio. Era quarta-feira e o Jornal do Almoço começaria em alguns minutos. A mesma cabeleira dos tempos da TVCOM, quando conversávamos de vez em quando no Estúdio 36. Os Engenheiros do Hawaii ainda tocavam pelos palcos do Brasil, e eu era um apresentador esforçado, que tentava disfarçar o encantamento de entrevistar pessoas que admirava. Gessinger era – e é – uma delas. Transformar tanta lucidez em poesia e tudo em canção, sendo um cara como a gente, faz dele um cara melhor que a gente.Então, quando vi o Gessinger antes do Jornal do Almoço, me deu vontade de saber o que ele pensa de tudo isso que aí está.
“Cara, quero te ouvir uma hora dessas”, foi o que eu disse. Ele entendeu na hora. Deu um quase suspiro simpático e respondeu: “Ando com preguiça de ser sincero”. Me iluminei com o facho porque a frase traduz exatamente o espírito do agora. Não um espírito hegemônico, mas peculiar a uma tribo ameaçada de extinção: os ponderados. Esses, quando sacam que a sua verdade já faz pouca diferença, são um farol da luz que resta. Então eu disse, rindo, mas falando a minha verdade: “Isso dá uma música: preguiça de ser sincero”. Gessinger mal esperou eu terminar e também sorriu: “Música instrumental”.
No ar, perguntei de onde, em 2019, vem a inspiração. A resposta foi outra que me encontrou em cheio: “Hoje, fugir da informação talvez até faça melhor para quem quer criar”. Fiquei com vontade de dar um abraço nele, mas não dei porque o programa iria em frente, as trocas de câmera e de temas não esperam pelos afetos. Mais tarde, no carro, fui ouvindo, a todo volume:
“Mas agora, lá fora, todo mundo é uma ilha, a milhas, e milhas, e milhas de qualquer lugar.”