O espanhol Lorenzo Monserrat, professor da Universidade de La Coruña, é um dos maiores especialistas do mundo em diagnóstico genético. Ele estará em Porto Alegre durante dois dias, na semana que vem, para encontros com cientistas e empreendedores. Também dará uma palestra no Hospital Moinhos de Vento. A agenda é coordenada pela Paradoxa, empresa que investe em negócios inovadores. Antes de desembarcar no Salgado Filho, Monserrat conversou com a coluna:
1. O Rio Grande do Sul já é o Estado com maior percentual de pessoas com 60 anos ou mais no Brasil. Do ponto de vista das políticas públicas de saúde, qual deveria ser o primeiro passo?
O envelhecimento da população é algo que vivemos de forma muito evidente na Espanha e muito em particular onde trabalhamos, na Galícia. Isso muda as patologias e as prioridades do sistema de saúde. Os problemas dependem também de condições socioeconômicas, de cada região e de cada indivíduo. As políticas têm que evoluir, do tratamento para a prevenção.
A gestão do conhecimento médico e da informação é uma grande oportunidade para o desenvolvimento de uma medicina mais eficiente, igualitária e com menos custos. Muitas vezes, os pacientes não têm acesso a serviços médicos especializados, ou os custos são muito altos, com muito tempo de espera. As novas tecnologias de gestão da informação, com as quais trabalhamos, podem ajudar os pacientes a se beneficiarem do conhecimento médico. Muitas vezes, o problema da medicina não são os meios econômicos, mas sim os meios humanos e o conhecimento dos profissionais, além dos sistemas para evitar erros no tratamento e nas prescrições
2. Quando falamos em doenças, o que é genético e o que é fator ambiental?
Em quase todas as patologias há um pouco de cada um. Mas há uma série de doenças em que a genética tem um papel muito importante e nas quais temos a possibilidade, hoje em dia, de fazer um diagnóstico que nos permita identificar com maior precisão qual é a enfermidade, ou as que podem surgir e que devemos prevenir.
Há casos em que a genética se apresenta como a principal causa das doenças: alterações nos moldes que formam as peças na nossa engrenagem cardíaca, por exemplo. A detecção precoce, com apoio do diagnóstico genético, muitas vezes nos permitem identificar os riscos e adotar medidas de prevenção. Nas outras áreas, como oncologia, está provada a existência de cânceres de predisposição familiar. Nestes casos, o diagnóstico genético nos permite ajustar o tratamento e, de outra parte, identificar familiares que estejam em risco e intensificar medidas que possam levar à prevenção.
Outro âmbito de utilização da genética no diagnóstico é a farmacogenética. Cada um de nós tem uma resposta diferente aos remédios, muitas vezes influenciada por fatores genéticos. Hoje, é possível identificar essas situações e ajustar o tratamento de forma mais eficiente. Em qualquer destes casos, os fatores ambientais são determinantes. É preciso evitar os riscos que desencadeiam complicações.