Estamos pagando o preço de um movimento equivocado. Nada houve de ilegal no afastamento de Dilma Rousseff. Todos os ritos foram cumpridos, com aval do Congresso e do Judiciário. O impeachment é um processo essencialmente político, porque é decidido pelos parlamentares sem qualquer necessidade de justificativa. O voto é "sim" ou "não". Politicamente, essa decisão bagunçou o Brasil.
Impossível saber o que teria acontecido se não houvesse acontecido o que aconteceu. Mas é possível supor. Dilma Rousseff teria terminado em frangalhos o seu governo. Sem o ódio e a polarização gerados pelo seu afastamento, as chances de uma candidatura moderada e conciliadora teriam sido bem maiores. Em meio a um clima emocional, ganhou o não. Não ao PT, não à corrupção, não à velha política.
Depois da posse, cada "não" deveria se transformar em "sim", porque é preciso apresentar alternativas sérias e equilibradas ao que se combateu. O governo Bolsonaro terá imensas dificuldades para construir essa ponte, justamente pela forma e pelas circunstâncias nas quais se elegeu.
Houve sim pedaladas fiscais. O governo do PT elevou a corrupção a patamares incalculáveis, mas teria sido melhor esperar mais um pouco e, cumprindo-se os prazos e as etapas de um processo judicial – e não político –, fazer justiça sem tanto ódio e revanchismo.
O governo Bolsonaro mal assumiu e já se escutam cochichos. São tímidos, mas existem. Motivos para derrubar um presidente sempre existem. O que não existem são motivos aceitáveis para repetir os erros de um passado tão recente.