Não há mais sentido na existência do júri popular. Ainda mais nesses tempos de furor condenatório, quando a acusação assume o papel de julgadora, antes mesmo do julgamento. O júri é essencialmente passional, enquanto a Justiça deve ser razão.
Desde que comecei a conhecer mais de perto o Judiciário, venho formando uma convicção. O ato de julgar é tão complexo, que deve ser reservado a especialistas, pessoas treinadas e capacitadas tecnicamente.
O júri é um espetáculo que não combina com a análise técnica e equilibrada dos argumentos da acusação e da defesa. Não resta dúvida de que a escolha dos jurados obedece a critérios criados para filtrar possíveis distorções. São pessoas comuns e honestas, mas desprovidas de preparo para as exigências da missão.
No júri, o mais importante é impressionar os jurados, independentemente de qualquer outra coisa. Acusadores e defensores que atuam nesse campo são mestres da oratória e da interpretação. Acredito que uma condenação, ainda mais em casos como o do menino Bernardo, deva ser baseada em provas, em fatos e na convicção de profissionais que estudam e se dedicam a julgar. O júri até pode acertar na imensa maioria das vezes. Mas não faz pelo caminho correto, o que é, de certa forma, uma injustiça.