O comunicado fixado no quadro de avisos das fábricas da GM, alertando que a operação atingiu "um momento crítico que exige sacrifícios de todos" não tinha apenas os funcionários da companhia como destinatários. A mensagem assinada pelo presidente da General Motors (GM) Mercosul, Carlos Zarlenga, também era um recado direto para Donald Trump e Jair Bolsonaro.
Das cinco unidades no Brasil, a fábrica de Gravataí é considerada a mais protegida contra eventuais turbulências internas e externas. É da linha de produção gaúcha que sai o modelo Onix, atualmente o carro mais vendido no país. Com 389,5 mil veículos comercializados em 2018 —e uma fatia de mercado que gira em torno de 15%—,a montadora é líder dentro das fronteiras brasileiras há pelo três anos.
Uma eventual saída do Brasil seria traumática para Gravataí. Além de gerar em torno de 3 mil empregos diretos e indiretos, a companhia é o motor da economia na região. No ano passado, 40% de todo o retorno de ICMS que a prefeitura recebeu estava diretamente ligado à produção da GM e de seus sistemistas. O equivalente a R$ 70 milhões.
O efeito no município, claro, é muito maior do que isso. Levando em consideração o impacto dos salários na economia local e a geração de serviços na cidade, como hospedagem e alimentação, a cifra se multiplica.
A estimativa da Secretaria da Fazenda de Gravataí é de que o valor gerado pela presença da GM no município tenha sido de R$ 2,5 bilhões em 2018. Um resultado tímido se comparado a 2014, antes da crise, quando chegou a R$ 4,1 bilhões, mas mesmo assim, indispensável. A segunda maior empresa instalada na cidade, por exemplo, não gera nem 15% desse valor.
Nos Estados Unidos, a montadora tem sido alvo constante de críticas. Ameaçando aumentar impostos de importação, Trump joga duro e tenta forçar as empresas automobilísticas com fábricas no Exterior a voltar a produzir em solo americano. O corte de 8 mil funcionários no fim do ano não ajudou a melhorar a relação com o governo. Ao anunciar agora que pode rever sua posição na América do Sul, a companhia faz um aceno discreto pela paz.
No Brasil, a montadora sinaliza que vai atrás de apoio do novo governo e incentivos fiscais para impulsionar os lucros. Representantes da montadora foram vistos circulando pelo gabinete de transição instalado no CCBB, em Brasília. Pelo desenrolar dos fatos, é fácil concluir que não conseguiram o que queriam. Em São Paulo, Zarlenga avança para conseguir redução de impostos, como mostra o jornal Valor Econômico.