Anúncios ao vivo, especulações, apostas, sondagens, estratégias, mistérios e postagens em redes sociais. O período de transição, aqui e em Brasília, se transformou em um espetáculo. A divulgação ritmada de novos ministros e de secretários parece anúncio de convocação para a Seleção. A cada posição confirmada, nós, os comentaristas, tecemos teses sobre qualidade individual e conjunto. "Para a Segurança...Ranolfo Vieira. Veja bem, Beltrame chegou a ser convidado, mas está fora de forma. Zucco é uma promessa, mas precisa pegar mais experiência na base...".
Assim como em um time, o presidente e o governador precisam cuidar um aspecto raramente levado em conta: capacidade de trabalhar em equipe em um horizonte finito de poder. Não nos iludamos. Ministérios e secretariados são os círculos mais próximos das abelhas rainhas e é ali, nesse espaço íntimo de poder, que se dão algumas das disputas por espaço mais acirradas. A diferença é que, muitas vezes, ninguém vê.
Há presidentes e governadores que estimulam essas tensões para poder resolvê-las, uma forma de exercer poder estudada há muito, por Maquiavel. Mas o bom líder, o gestor evoluído, compreende o sentido do todo e trabalha para, preventivamente, garantir a harmonia. Uma vez, durante uma entrevista, perguntei a Leonel Brizola quem seria o seu sucessor no PDT. Ele respondeu que não iria indicar ninguém, porque acreditava que ele surgiria naturalmente. Não surgiu.
Quando forma uma equipe, um governador e um presidente se beneficiariam se tivessem em mente que, um dia, esse ciclo chegará ao fim. Saber construir uma sucessão é tão importante quanto governar bem. Bolsonaro e Leite já poderiam estar pensando nisso. Saber que o poder um dia acaba é a única coisa que os políticos não deveriam jamais esquecer.