Quem visita uma cidade pela primeira vez e por pouco tempo a define rapidinho. São escassas as peças para juntar na história. Se o garçom foi simpático, o lugar é lindo. Se o motorista do outro carro xingou o do meu Uber, os nativos são grosseiros.
Morar numa cidade é uma relação mais complexa. Tem humores e tempos diferentes. Nos exige usar o aplicativo para chegar a destinos conhecidos. Exigimos o atalho e os segundos poupados. Os nossos e os dos outros. Mas, por mais espinhosa que seja a resposta do espaço urbano, podemos escolher, eventualmente, a direção do olhar e da memória.
Segunda-feira é o aniversário de Porto Alegre.
Se o que a define hoje são os buracos nas ruas, também a definem os ipês floridos. Se há violência, há também o repouso e o carinho.
Relações complexas dão trabalho. É preciso extrair a casca e subtrair o peso do feio.
É decisivo querer olhar.
Porto Alegre tem tudo.
Tem até cura.