O nome é Histórias da Noruega, mas, não fosse o cenário branco pela neve e os personagens todos bem agasalhados, bem que poderia se chamar Histórias do Brasil. O programa de TV, que é o maior sucesso tanto em Oslo quanto no interior do país, faz uma releitura sarcástica de fatos reais vividos no país, sempre líder no ranking de desenvolvimento humano.
Na semana passada, por exemplo, foi apresentado o caso da construção de um trampolim gigante para mergulhos às margens do lago Mjøsa. Orçada em US$ 190 mil, acabou custando US$ 3,8 milhões aos cofres públicos. Alternando entrevistas reais com dramatização musical, o programa mostra de maneira didática como o projeto foi todo mal planejado e que no final ninguém levou a culpa. Qualquer semelhança com a realidade brasileira, como se vê, é mera coincidência. Num país apaixonado por reality shows como o nosso, seria um estouro de audiência.
No show dos irmãos Ylvis e Bjarte, ninguém sai ileso. O devaneio de quem teve a ideia, a megalomania do arquiteto e a omissão dos conselheiros do município estão todos lá. Fica explícito como a combinação desses ingredientes gera toda a bagunça. Bastaria acrescentar algumas dezenas de milhões nas cifras gastas e uma boa dose de corrupção e sairia do forno um típico prato brasileiro.
Nem só projetos públicos que tiveram o orçamento estourado alimentam a criatividade dos idealizadores do programa. Num dos episódios mais ácidos, a dupla satiriza o deslumbramento norueguês durante a visita de Justin Bieber ao país. O frenesi de adolescentes que viajaram centenas de quilômetros para ver o cantor, a cobertura da imprensa, que “rapidamente esqueceu-se das histórias chatas dos sírios refugiados” e a aflição dos donos de hotéis para deixar tudo impecável para receber o astro ganham contornos hilários quando se sabe o final da história: depois de se irritar com fãs, Bieber abandonou o palco logo após a primeira música.
Saber rir de si mesmo é mesmo uma arte.