Estranho seria se a Sapucaí fechasse os olhos para os grandes temas-enredo do Brasil. Vampiro Temer, Petrobras, corrupção, STF, reformas, impeachment ou golpe? Tá na boca do povo. O Carnaval sempre foi palco de protestos e irreverência. Andava meio anestesiado, mas voltou à velha forma. Pode-se discutir o exagero para um lado ou para o outro, mas debater é bom.
Não há como o Carnaval falar sobre o Brasil sem ser de um jeito Carnaval. Com samba e alegorias. Desqualificar esse enfoque é uma forma de preconceito. Em vez de mimimi, sábio seria ouvir o recado.
Importante, porém, preservar o caráter orgânico e espontâneo dessas manifestações. Aparelhar o Carnaval e o futebol é sonho de três em cada dois ditadores e populistas. Seria terrível. Sem legitimidade, é outra coisa. Não é acaso que a mudança de tom deste ano coincide com o encolhimento dos financiamentos públicos para os desfiles. E aí também, do lado das escolas, vale a reflexão. Se o protesto é apenas mágoa ou se é convicção cidadã.
Numa perspectiva de longo prazo, será bom para o Carnaval que os governos mandem menos e que a sociedade mais ampla se apodere da festa. Sem esquecer daquilo que só o poder público pode fazer: organizar o trânsito, a segurança e o transporte. Um Carnaval com menos governo, sem jogo do bicho e sem outras fontes de financiamento obscuras. Aí, sim, a festa será completa.