Foi tri bom chegar ao Brasil. Depois de seis meses, quando bati a porta da casa alugada na Filadélfia para pegar o voo de volta, fazia 11 abaixo de zero. Eu já estava até acostumado com o frio. Mas o banho de luz, de verde e de calor foi reconfortante. Mais do que o sol e as árvores, rever as pessoas me fez bem. É curioso, mas encontrei nelas o mesmo contraste térmico que experimentei ao mergulhar nos 33 graus de Porto Alegre.
Marco Antonio Perottoni, um dos pilares da Casa do Menino Jesus de Praga, é só empolgação com a mudança para a sede nova, em março. Mas, quando fala sobre o Brasil, esfria o tom de voz. "Difícil."
Zé Victor Castiel, amigo, ator e empreendedor cultural, treme de alegria com o Porto Verão Alegre, festival de teatro que começou neste fim de semana. Bons espetáculos, patrocínios de grandes marcas, ingressos vendendo como água. "Mas o Brasil... ahhhh... o Brasil tá complicado."
Estive na posse do padre Marcelo de Aquino, queridíssimo e brilhante reitor da Unisinos. Plateia totalmente lotada. Uma aula de fé, de grandes projetos e de confiança no futuro. Já o nosso país, cheio de interrogações.
Na praia, fui correndo comprar vazio para o churrasco. No açougue, que agora atende pelo nome de boutique de carnes, o dono era só sorrisos. O movimento aumentou, bastante. "Mas o Brasil, o Brasil não dá mais."
José Pedro Goulart, cineasta e um dos maiores diretores de comerciais do país, revelou, em uma roda de amigos, seu novo projeto de filme. Discorreu, com brilho nos olhos, sobre a trama. Quando começamos a falar sobre o Brasil...
Encontrei as pessoas que amo com saúde e tocando suas vidas. Inaugurando sonhos e projetando os próximos. "Por que tu voltou?" foi uma das perguntas que mais ouvi.
Esses primeiros momentos são ricos. Depois, a gente entra na rotina e se acostuma. Fica anestesiado. Então, à noite, com a cabeça no travesseiro, me pus a pensar. Me dei conta: chamamos de Brasil um Brasil que não habitamos. O cansaço se chama política, esfera pública, Estado, incompetência de quem se apresenta como solução e depois diz que não tem saída.
É por isso que sinto: tem jeito. As pessoas carregam essa capacidade linda de tocar as suas vidas, de ousar, de recomeçar, de empreender. Parar de esperar por presidentes milagrosos e por soluções mágicas é o remédio, não o veneno. A desilusão é gelada. Mas, depois, sempre chega o sol. Nenhum governo, Congresso ou juiz deveria ter tanto poder sobre o nosso humor. Nós é que mandamos no humor deles.
Adoro a resposta do mestre budista quando o discípulo pergunta: o que é Deus?
"Já comeu? Então vá lavar seus pratos."