Ainda falta um ano para as próximas eleições, mas já sei em quem eu quero votar. Infelizmente, meu candidato não pode ser eleito. Não no Brasil, onde a Constituição não permite que estrangeiros assumam a presidência.
Enquanto os brasileiros sentem o estômago embrulhado com a classe política do país, boa parte preocupada em ocupar cargos públicos apenas para garantir vantagens pessoais, o mundo se surpreende – e se apaixona – com o frescor de Justin Trudeau.
O primeiro-ministro canadense é, sem dúvida, o líder mais atraente da política mundial. Mas não apenas sua fachada é chamativa. Trata-se de um político fora do comum, no discurso e nas atitudes. Surpreende ao conjugar o discurso de progresso nos costumes ao de liberdade na economia, dois conceitos que no Brasil parecem opostos, mas que, na verdade, não são.
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Eleito no final de 2015, Trudeau mostrou como seria seu jeito de governar tão logo assumiu o posto. Metade do primeiro escalão indicado era formado por mulheres. Alçado à condição de líder da nação, o professor de literatura soube fugir da armadilha comum de justificar um ministério estritamente masculino com o argumento de que é apenas o currículo do ocupante do posto que importa.
Entende que tal alegação só demonstraria uma crença inconsciente de que não é possível encontrar pessoas preparadas para assumir cargos de liderança que não sejam homens. E foi além: entre os escolhidos, indicou dois indígenas, uma deficiente visual, um gay e quatro ministros de origem indiana. Disse ter levado em conta a diversidade do Canadá ao formar a equipe.
Assim como políticos brasileiros, faz intenso uso das redes sociais (tem 5,2 milhões de seguidores no Facebook e 1,4 milhão no Instagram) para mostrar aos internautas-eleitores suas ações. Nunca para espezinhar opositores políticos ou para estimular a intolerância com quem pensa diferente.
Mantém um olhar simpático aos refugiados sírios num momento em que o vizinho e outros vários países ricos restringem a entrada de estrangeiros. Quando Donald Trump anunciou o endurecimento das regras para a entrada de pessoas vindas de países muçulmanos, respondeu prontamente no Twitter: “àqueles fugindo da perseguição, do terror e da guerra, os canadenses vão recebê-los, independentemente da sua fé. Diversidade é nossa força”.
Determinar a redução das emissões de metano das indústrias de petróleo e gás do país, cortes de impostos e investimentos em infraestrutura são outras ações de Trudeau que se destacam.
Claro que, nessa trajetória, também há escorregões. O governo tem acumulado déficits nas contas, e a promessa de uma reforma política, grande bandeira quando estava na oposição, foi abortada após a vitória nas eleições. Nem tudo é perfeito.
Mas nada que dissipe o exemplo de apoio à diversidade, à tolerância e à livre iniciativa.
Lições que a maior parte dos políticos brasileiros ainda precisa aprender.