As centrais sindicais gaúchas UGT, CTB, FORÇA SINDICAL, NCST e CSP Com Lutas, escreveram à coluna rebatendo o artigo que defendia o fim da contribuição sindical obrigatória – publicado na quarta-feira (2). Os sindicalistas pontuam que "também sabem da importância de uma reforma tributária", mas que "nem todas as categorias conseguem por si só negociar justamente com o patrão".
Leia a resposta completa:
Prezado Tulio Milman, em sua coluna do dia 03 de maio de 2017, intitulada "Por sindicatos mais fortes", o jornalista usou termos como "pseudolíderes rançosos, bolorentos e radicais", além de "vítimas de sua própria insignificância, burrice e ineficiência". Vivemos em uma sociedade livre, onde as opiniões devem ser preservadas, no entanto, por se tratar de um formador de opinião, tais adjetivações são perigosas em demasia.
A contribuição sindical é repassada aos trabalhadores de diversas formas: atendimento em saúde, assessoria jurídica, fiscalização e, além disso, com lazer, pois o trabalhador de todos os segmentos possui uma sede campestre ou uma colônia de férias no litoral. E, o mais importante, a entidade sindical enfrenta de igual para igual o homônimo patronal. Os sindicatos dos trabalhadores se enfraquecerão na mesa de negociação. Nem todas as categorias conseguem por si só negociar justamente com o patrão. Mas, vamos além, assim como a contribuição sindical, o Sistema S, que era para ser destinado à educação, que é pago pelo próprio contribuinte, nem sempre tem essa destinação. Some na névoa de federações patronais e com valores vultuosos.
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As centrais sindicais, assim como os sindicatos que nelas estão inseridos, também sabem da importância de uma Reforma Tributária. O empresário sofre com o peso dos impostos. Em cada esfera (federal, municipal e estadual) ele enfrenta uma avalanche de impostos em cascata. O empresário não é inimigo do trabalhador, mas o trabalhador é o elo mais fraco dessa queda de braços de gigantes e sem um sindicato forte...já sabemos o resultado. Ele pode ser forte sem a contribuição? Sim. Mas não sem que isso seja gradual. Há sindicatos que atendem mais de 30 mil pessoas por ano e possuem um quadro de funcionários de quase 100 pessoas. Sem esse aporte, a entidade teria que demitir os empregados e o tratamento ao trabalhador seria praticamente extinto.
A Reforma Política também é necessária. Haja vista os currículos dos nossos congressistas. Passando as leis mais absurdas em pleno século 21. Ainda é cedo, mas a CLT Rural nos trará de volta ao regime de escravidão, onde o trabalhador do campo vai "trocar" o seu serviço por comida e moradia! Sabemos que ele sempre ficará em "dívida" com o patrão. O negociado sobre o legislado terá um peso maior, mas esse peso será em prol do empresário. Há casos, como o do segmento cimenteiro, onde o trabalhador chega a ser intimidado pelo empregador durante a negociação salarial. Nem o INPC consegue receber do empresário, pelo simples fato de eles não terem força para dialogar. Um grupo de funcionários de dentro da própria empresa acaba por ser coagido pelo trabalhador.
A terceirização, aprovada neste ano, também foi mais um golpe no trabalhador. Segundo o Dieese, o terceirizado trabalha 3 horas por semana a mais, recebe 24,7% a menos, permanece menos de 3 anos no emprego (alta rotatividade) e 90% dos trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão são terceirizados. O Rio Grande do Sul é o segundo do ranking de estados brasileiros onde mais acontecem acidentes de trabalho em frigoríficos, de acordo com dados do MTPS (Ministério do Trabalho e Previdência Social). Em 2013, chegou a encabeçar a lista, somando 2.313 casos. Os funcionários públicos e o comércio também sofreram com essa outra crise, a crise da moral, pois todo o processo político atual prejudica o trabalhador. Tanto o privado quanto o público.
Sem os "pseudolíderes", a situação tende a se agravar. Sem as reformas tributária e política, a crise se alastrará e não é castigando um lado (o mais fraco) que se fará uma sociedade mais justa.