O nome oficial: Exercício Guarujá. Na terça-feira, pela primeira vez em muito tempo, o Exército foi para a rua cuidar de segurança pública em Porto Alegre. Já havia feito movimento similar em Bento Gonçalves. Como o Exército não tem poder de polícia, a Brigada Militar foi chamada a apoiar.
O Comando Militar do Sul fez questão de ressaltar: foi um exercício, um treinamento. Na condição de jornalista e de observador da realidade, opino que foi bem mais do que isso: foi um recado. Para o crime organizado e para a sociedade.
1) Estamos aqui.
2) Estamos prontos.
3) Podemos auxiliar.
A Brigada Militar tem hoje uma defasagem de mais de 15 mil homens. Sem falar em armas e outros equipamentos. Por isso, seu poder é restrito. Se a decisão de tapar o buraco fosse tomada agora, levaria cerca de um ano, entre concurso e treinamento, para aprontar os homens.
A cena de soldados do Exército acompanhando a revista de carros na zona sul da Capital é, ao mesmo tempo, impactante e reveladora. Anos atrás, resultaria em apreensão e em protestos. Em 2016, ouviram-se aplausos. Quase generalizados.
Alguns setores da Brigada Militar temem, legitimamente, que qualquer solução de segurança que não passe pela corporação signifique perda de espaço e de poder. Já escrevi antes e repito: nem Força Nacional, nem EPTC, nem Exército, nem Guarda Municipal. A Brigada Militar, motivada e forte, é a única solução. Mas, enquanto isso não acontece, precisamos de ajuda. Com urgência.
Depois de relutar muito e diante de uma pressão avassaladora da sociedade, o entendimento do governo estadual é o de que um pouco de pirotecnia bastaria para serenar os ânimos: um punhado de homens da Força Nacional, barulho de sirenes e luzes giroflex. Para voltar a ser um lugar minimamente seguro, Porto Alegre precisa mais.
Qualquer ação mais efetiva do Exército depende de uma autorização de Brasília, a exemplo do que aconteceu no Rio de Janeiro. O argumento da necessidade da “garantia da lei e da ordem” asseguraria o amparo jurídico. Mas, nesse caso, Brasília nada fará sem o aval do Piratini.
Enquanto as decisões nessa área continuam inspiradas pelo viés político, o caos se instala nas ruas. Reforçar a Brigada Militar e trabalhar de forma coordenada e técnica com todos os agentes capazes de agir dentro da lei. É o mínimo que podemos esperar. E que devemos exigir.
Contrapé
O vencedor do debate presidencial americano se chama Karl Becker. Ele não concorre a coisa alguma. No domingo passado, estava na plateia da Washington University, em Saint Louis.A batalha verbal entre Donald Trump e Hillary Clinton estava quase acabando quando Becker foi convidado a fazer a sua pergunta. Preste atenção, porque foi genial. "Minha pergunta para ambos, apesar da retórica corrente: cada um de vocês poderia citar um aspecto positivo que respeita no outro?"
Sinuca de bico, xeque-mate. Risos e aplausos na plateia. Surpresa no palco.
Hillary começou. Falou sobre os filhos de Trump e do quanto os respeitava. Elogiou a dedicação deles ao pai e o quanto isso dizia sobre Donald.
Trump agradeceu e também elogiou a adversária, dizendo que ela nunca desistia, que era uma lutadora. E que respeitava muito isso nela.
Não foram só as respostas. Foram os sorrisos, um olhando pro outro, foi o distensionamento. Pela primeira vez naquela noite, ambos pareceram 100% autênticos. Duvido que os media trainers tenham ensaiado a resposta a uma questão tão brilhante e inesperada. Especialmente por ter sido feita na contramão do clima de guerra do debate.
Karl Becker e sua pergunta fizeram mais pela democracia e pelos Estados Unidos do que todas as acusações e baixarias da campanha.
Fora do foco
Cinco temas que mereceriam mais espaço no debate eleitoral em Porto Alegre:
1. Arroio Dilúvio
2. Metrô
3. Inclusão digital
4. Poluição sonora
5. Cães soltos nas praças e parques
Sacada
O Rolando Arroz, organizado pelo Projeto Social WimBelemDon, vai contar com a presença do número 1 do Brasil, Thomaz Bellucci. Será no dia 27 de novembro. O tenista vem acompanhado dos embaixadores do projeto, Thomaz Koch e Fernando Meligeni.Uma jogada de mestre para incentivar a formação social e esportiva de cerca de cem jovens da zona sul de Porto Alegre.
Online
Internet e Direito Penal – risco e cultura do medo. O livro ficou pronto durante a semana. É a dissertação de mestrado pela Unilassale do chefe de Polícia, Emerson Wendt.