Oráculos, gurus, direitistas, esquerdistas, jornalistas e dilmistas. As previsões sobre a votação do impeachment convergem para uma mesma falsa certeza: os indecisos definirão o futuro do Brasil. Notícia exclusiva, bombástica, certeira: não existem indecisos. Existem aqueles que, por conveniência ou medo, declaram-se indecisos.
Se você e eu, que não somos deputados, já temos a nossa posição definida, imagine eles, que habitam o intestino da besta, que estão lá todos os dias envoltos em tramas, conversas e perspectivas de poder.
Duvido que, no seu íntimo, algum deputado ou senador não saiba exatamente o que vai fazer. Os que não sabem não viraram deputados ou senadores, mestres na arte da dissimulação e da sobrevivência na selva de Brasília, cipoal habitado por múltiplas espécies, menos por uma.
A extinção ocorreu antes mesmo de Juscelino Kubitschek botar os pés pela primeira vez no Planalto Central: a ingenuidade. Essa morreu, tadinha.
Alguns dias atrás, em Brasília, conversei com um deputado federal. Seu nome consta da lista de indecisos. No gabinete, em off, o parlamentar me explicou que vai votar a favor do impeachment, mas que não pretende anunciar antes da hora para evitar represálias do governo, materializadas em eventuais cortes de emendas e em outras pressões nada ortodoxas.
O fato de cada deputado e senador saber exatamente o que vai fazer não significa estagnação. Haverá mudanças no meio do caminho. Nenhuma delas, com certeza, inspirada por nobres motivos ideológicos.
Há também a contrainformação. Pode parecer estranho, mas não duvide: deputados declarando serem contrários ao impeachment mas que, na hora H, votarão a favor. Escondem a mão antes do soco para não assustar em demasia o adversário. Para que o governo pense contar com votos que não tem e, assim, reduzir a mobilização. E vice-versa.
Espere tudo dos nossos deputados e senadores. Menos indefinição numa hora como esta. Cada um votará de acordo com seus interesses partidários e pessoais. Todos eles só foram parar em Brasília porque aprenderam, desde cedo, uma velha lição: na política, quase sempre, as palavras servem para encobrir as verdades.