Eles não jogam por nós. Eles jogam por eles. A Seleção Brasileira perdeu o encanto, a graça, a liga. Perdeu até o seu poder de significar. Aquele bando de jogadores, quase todos desconhecidos e sem brilho, não faz mais sentido. Quarta-feira, preferi comer um churrasco a ver o jogo. A tevê estava ligada ali no lado, mas ninguém prestou atenção. E olha que eu adoro futebol.
Me sinto enganado. Minha desilusão se agravou na Copa. Não só pelos 7 a 1, mas por ter acompanhado de perto a rotina na Granja Comary. Vi como a seleção foi privatizada da pior maneira possível. Não encontrei alegria em nenhum momento. Só o ranzinzice de Luiz Felipe Scolari, os treinos ineficientes e os métodos jurássicos. Jogadores que se achavam deuses, panelinhas e egoísmo extremo.
É estranho quando algo que a gente ama perde todo o encanto com a proximidade. Não falo aqui da idealização extrema, aquela do guri para quem a camiseta amarela era sinônimo de vitória, esforço e emoção. É normal que, de perto, apareçam defeitos e imperfeições. No caso da Seleção, o processo foi radical. Saí da Copa sem nada. Tudo o que eu achava sobre o clima de uma equipe, sobre a parceria e sobre liderança no futebol acabou ali.
Estranho que não perdi isso em relação ao Inter. Mas a Seleção, essa não me representa mais. Tenho alguns amigos que até torcem contra. Não vou a tanto. Quero que o Brasil se classifique para a Copa. É sempre bom aquele clima. Pipoca, amigos, família. Pela primeira vez desde que nasci, vou assistir ao Brasil jogar sem qualquer expectativa de vitória. Minha desesperança é tamanha, que não levar outros 7 a 1 já servirá de consolo. É pouco para quem já foi o Robin Hood do futebol. Um país pobre e sorridente, enfrentando e vencendo, com talento, o mau humor metódico e monocolor dos ricos.
Nos falta carisma. Nos falta até mesmo uma causa pela qual entrar em campo. Já ganhamos cinco Copas. Nossos jogadores não moram no Brasil. Já são ricos e famosos.
Não vi o jogo contra o Paraguai. Mas vi o contra o Uruguai, alguns dias antes. Depois do apito final, Neymar queria brigar com sei-lá-eu-quem. Foi contido por um companheiro. Do Barcelona. Soares, o predador que virou bombeiro. Nos falta em campo a mesma união que nos falta fora dele. Nossa Seleção está à deriva. "Parece que todo o Brasil deu mão". Mudou.
Agora, parece que todo o Brasil deu de ombros.