"Nunca mais", disse Obama. Não foi um pedido de desculpas. A frase, pronunciada na Argentina durante a semana, é uma celebração de vitória. A construção correta seria: “Nunca mais, porque não vai precisar”. Os Estados Unidos venceram a Guerra Fria. O comunismo acabou. Macri está no poder.
Então, 40 anos depois, meia dúzia de rosas brancas jogadas pateticamente no Rio da Prata se transforma em um pedido vazio de perdão. O mesmo que será feito aos sírios daqui a meio século por algum democrata bonzinho em fim de mandato. “A gente não precisava ter bombardeado tanto se tivéssemos vontade de resolver antes e de outro jeito”, dirá o presidente ao desembarcar do Air Force One em Damasco. Tudo com tradução simultânea para o mandarim.
Povos nativos das Américas. Holocausto. Escravidão. Torturas. Massacres. Quem tem legitimidade moral para perdoar?
Os milhões de mortos. Só eles.
Mais honesto seria falar sobre a História. Explicar o contexto. Relembrar a disputa entre capitalismo e comunismo. Refletir sobre os danos que a insanidade ideológica pode causar. Obama optou pelo caminho “momento lindo”. Deu uma de Roberto Carlos da diplomacia. Não foram as palavras. O ponto alto da visita presidencial à Argentina foi coreográfico. Durante um jantar na Casa Rosada, Obama arriscou alguns passos de tango. Charmoso. Encantador. Genial.
"It takes two to tango" é uma expressão muito usada em inglês. Tradução livre: “Precisa de dois para dançar um tango”. Equivale ao nosso “quando um não quer, dois não brigam”. Enquanto Obama e Michelle bailavam, cada um com su pareja, reverberava pelo salão o clássico Por una Cabeza.
Erro de cálculo. Foram milhares de cabeças. E de pescoços.