"O brigado por fazer eu e mais três pessoas perderem o emprego. Fizemos a ligação para o senhor hoje pela manhã e o senhor ligou para a diretoria denunciando a gente. Espero que esteja satisfeito agora quatro pessoas desempregadas por sua culpa (...) Muito obrigado senhor Tulio que Deus lhe pague."
Li essa mensagem ontem no meu Facebook.
Alguns dias atrás, recebi um telefonema. Era a oferta de um smartphone, totalmente grátis.
Só que o técnico precisaria me encontrar para fazer a entrega. Era uma promoção com vários clientes, me explicou a moça. Nenhuma taxa, nenhum compromisso. Eu poderia, inclusive, vender o aparelho depois.
Achei estranho.
A moça se apresentou usando o nome da minha operadora de celular. Sabia quem eu era. Pedi que ligasse mais tarde. Ela disse que ligaria, que eu poderia até conferir tudo com o gerente, que a proposta
era essa barbada mesmo.
Não acredito em almoço grátis. Na mesma hora, telefonei para a operadora. Não fiz queixa, nem reclamei. Relatei o ocorrido, dei o número do qual haviam me ligado e perguntei se a história era quente.
Fui aconselhado a não aceitar o presente.
Uma semana depois, abri o meu Face e dei de cara com a mensagem transcrita no primeiro parágrafo desse texto. Fiquei surpreso. Minha culpa? E olha que de culpa eu entendo. Fiz um cursinho de três mil e quinhentos anos. Eu, o vô Isaac, a tia Sara, o tio Moishe...
Passado o susto, pensei em nem responder para a moça que me escreveu. Entendo que ela esteja chateada, que precisava desabafar. Depois achei que me sentiria melhor se dirigisse a ela algumas palavras:
"Bom dia. Lamento. Mas não imaginei que vocês estivessem fazendo alguma coisa errada. Recebi uma oferta estranha e fui conferir. Só isso. Boa sorte e tenha certeza de que Deus está do lado dos honestos de coração".
Liguei de novo para a operadora que, de forma transparente, me explicou que a moça era de uma empresa do Interior, que ela estava operando fora da sua área, que outras regras haviam sido descumpridas e que dois clientes, além de mim, já tinham feito a mesma consulta. Diante disso, a operadora fez o que deveria fazer.
Fico triste pelas quatro pessoas sem emprego. Mas me conforta pensar que, provavelmente, outras quatro terão uma chance de trabalhar.
Então terminou assim. Eu, o dedo-duro, sendo acusado pela moça de ter feito o que qualquer um deveria fazer. Buscar informações antes de aceitar presentes estranhos, de comprar peças de carro baratas demais, de marcar um encontro com uma pessoa que se apresenta do nada usando nome de uma empresa conhecida.
Só faltou me chamarem de trouxa, por eu ter ficado sem o telefone grátis. Ainda dá tempo. E o mais triste é que eu não me surpreenderia.