É injusto que Bruce Willis, 67 anos completados em 19 de março, tenha sido forçado a antecipar sua aposentadoria na mesma temporada em que o Framboesa de Ouro — prêmio de galhofa lançado em 1981 por um publicitário de Hollywood — criou uma categoria especial, a da Pior Interpretação de Bruce Willis, com oito filmes de 2021 estrelados pelo ator: Apex, Emboscada, A Fortaleza, Fuga da Morte, Impasse, Invasão Cósmica (o premiado), Meia-Noite no Switchgrass e Sobreviva ao Jogo.
Ele foi diagnosticado com afasia, um distúrbio que se caracteriza pelo comprometimento da linguagem após um dano cerebral, incluindo tanto a expressão como a compreensão, seja para fala, leitura ou escrita. Sua família comunicou publicamente o abandono da carreira. Os últimos trabalhos seguem a linha dos indicados ao Framboesa de Ouro: são filmes de ação ou policiais de baixo orçamento e de baixíssima recepção junto à crítica. Gasoline Alley (2022), por exemplo, tem 6% de aprovação no site Rotten Tomatoes. À espera da estreia ou em pós-produção, estão títulos como Vendetta, The Wrong Place, Soul Assassin e Corrective Measures.
Willis, que nunca concorreu ao Oscar — seus principais prêmios são um Globo de Ouro (pela série A Gata e o Rato) e dois Emmys (por A Gata e o Rato e por uma participação especial em Friends) — merecia uma despedida muito mais honrosa.
Afinal, este é o cara que se transformou em exército de um homem só na franquia Duro de Matar (1988-2013, disponível no Star+), cujos cinco filmes arrecadaram US$ 1,4 bilhão mundialmente e tornaram o tira John McClane um dos mais memoráveis heróis de Hollywood.
Este é o cara que emprestou a voz para o bebê atento, cínico e sarcástico da comédia Olha Quem Está Falando (1989, Star+).
Este é o cara que encarnou o boxeador do relógio de ouro e da espada katana em Pulp Fiction (1994, Globoplay e HBO Max).
Este é o cara enviado de volta no tempo para descobrir a causa de um vírus que acabou com quase toda a população do planeta em Os 12 Macacos (1995, para aluguel em Amazon Prime Video e Apple TV).
Este é o cara que, na pele de um perfurador de petróleo, salvou a Terra da extinção ao destruir um asteroide em Armageddon (1998, Star+).
Este é o cara que, exibindo uma insuspeitada sutileza na interpretação, ajudou o diretor M. Night Shyamalan a praticar uma das maiores reviravoltas da história do cinema em O Sexto Sentido (1999, Star+).
Este é o cara que, ao repetir a parceria com Shyamalan, transformou Corpo Fechado (2000, Star+) no melhor filme de super-herói não baseado em quadrinhos e no início da mais inesperada trilogia cinematográfica.
Este é o cara que viveu o único tira honesto de Sin City: A Cidade do Pecado (2005, HBO Max), talvez a mais perfeita transposição dos quadrinhos para o cinema.
Este é o cara que lutou contra o tempo e contra todos em 16 Quadras (2006, Paramount+).
Este é o cara que fez um policial de coração mole em Moonrise Kingdom (2012, Google Play e YouTube).
Este é o cara que foi caçado por sua versão do passado (Joseph Gordon-Levitt) em Looper: Assassinos do Futuro (2012, HBo Max).
Este é o cara que, quando surgia em cena, com lábios crispados, olhar fuzilante e careca reluzente, costumava nos dar uma certeza: aí está um cara duro de matar.