Então, meus caros leitores, é chegado o dia em que finalmente escreverei talvez um dos textos mais aguardados desde que comecei esta coluna. Até hoje, nunca senti que fosse realmente o momento de abordar uma das coisas que mais me perguntam em relação ao ciclo olímpico: como lidar com a expectativa de participar de uma Olimpíada?
Demorei por que é uma pergunta difícil, até mesmo agora, enquanto escrevo, estou tendo dificuldade para me expressar em palavras. Não é uma tarefa fácil, mas farei o meu melhor. Em 2021, estive no grupo de quem tinha a vaga garantida e estava contando os dias. Atualmente, porém, estou do lado de quem ainda está correndo atrás da vaga para poder participar. E esse texto tem mais a ver com o segundo grupo.
Nesta sexta-feira (28) saberei com certeza se vou para as Olimpíadas de Paris. Estarei competindo pelo Troféu Brasil de atletismo, a última oportunidade para nós brasileiros. Parando para pensar, de certa forma meu ciclo se encerrará, o período de preparação para os Jogos acaba essa semana, havendo êxito ou não. Me sinto feliz e aliviado de estar chegando ao fim. Foram quase três longos anos que, apesar de muito desafiadores, foram também divertidos.
Você, meu caro leitor, pode estar se perguntando: como está se sentindo? Como lida com a ansiedade? E lhe respondo, me sinto bem, sem ansiedade. Já são quase 20 anos de atletismo, centenas de competições dos mais variados níveis, uma Olimpíada entre elas. Não ousarei dizer que é só "mais uma competição", esse Troféu Brasil é um torneio importantíssimo, mas o meu dever e objetivo nele é o mesmo em todas que já participei: saltar o mais longe possível. “Simples”, né? Essa máxima me mantém nos eixos e me faz ter tranquilidade para lidar com a expectativa.
Naturalmente, é diferente para cada um de nós, atletas. Isso foi algo que aprendi e absorvi com os anos de experiência, através do trabalho com meu treinador e equipe multidisciplinar. Para mim funciona e vejo que outros lidam de formas diferentes, mas existe algo de comum entre nós todos: a fé.
Os atletas talvez sejam o grupo de pessoas que mais fé têm e não digo fé no sentido de religiosidade, mas fé em acreditar fielmente no trabalho e que ele dará frutos. Na nossa cabeça, é quase inconcebível que os treinos que fazemos, os desafios pelos quais passamos e as abdicações que nos são requeridas não se transformem no resultado que queremos. É uma fé inabalável, até o último segundo, ponto, salto ou arremesso, ela se mantém. Como dizem por aí, para nós atletas, só acaba quando termina.
Acredito que o que nos permite lidar com a expectativa é essa fé no treinamento. A melhor sensação é quando nos sentimos bem treinados, bem física e tecnicamente. Ao final de um ciclo, após anos construindo, a expectativa é sempre a melhor possível se o ciclo saiu como planejado. E tem vezes que somos abençoados com um ciclo com mínimos percalços e com o resultado almejado.
A verdade é que estou na melhor hora. A melhor parte é competir, a gente aguenta os longos treinamentos, a dieta e as dores em prol da competição. Competir é divertido, viajar é ótimo, o momento é para botar em prática tudo que acumulamos e fazer acontecer. Somando todos esses fatores, quando tudo se alinha no dia e na hora, nos sentimos imbatíveis e, durante esses momentos, vemos as grandes performances acontecerem. A grande verdade é que treinamos sempre para esse momento.
Quando essa coluna for ao ar ainda não saberemos se me classifiquei ou não, mas espero que eu traga boas notícias na semana que vem.
Torçam por mim!