Lembro exatamente da primeira vez em que ouvi falar dos Caminhos de Pedra. Em meados dos anos 1990, uma amiga voltou encantada com as casas recém restauradas no Distrito de São Pedro, interior de Bento Gonçalves. Não demorei a percorrer a rota, criada em 1992 após a reconstrução das quatro primeiras casas. Desde então, volto de tempos em tempos para um passeio, para almoçar, passar o dia. Foi o que fiz num sábado de inverno recente, para esta série inspirada no 36 Hours do New York Times. O legal é que a maioria dos empreendimentos funciona 365 dias por ano.
A primeira dica é parar no Centro de Atendimento ao Turista, no início do caminho, ao lado de um posto de gasolina, para pegar um mapa e saber das novidades (está tudo também em site, redes sociais etc., mas um mapinha de papel, para ir identificando os pontos e riscando o que já se viu e ainda há por ver, tem seu valor). Já comentei numa nota aqui na coluna minha decepção ao ver pelo menos uma das casas muito descaracterizada. Espero que repensem. Em função do tempo escasso, de já conhecer alguns dos locais e do almoço ter sido prolongado, não percorri o roteiro inteiro. Confira a seguir:
1 - Iniciei no que para mim era uma novidade, a Casa di Dolci, com vista para o Salto Valério e com um mirante onde é possível fazer ótimas fotos. No interior da casa, há cafés e doces como cannoli, profiteroles, pasta sfoglia, tiramisú, além de sodas italianas e geleias artesanais e gourmet.
2 - Na primeira vez em que fui ao que hoje é o Restaurante Casa Angelo, um rodízio de carnes e massas, a antiga proprietária da residência datada de 1889 ainda morava por lá. Fiz fotos em frente à construção com ela. Hoje, há apenas suas fotos na parede, mas ver que o local está muito bem conservado (a primeira foto, no alto), adaptado para o restaurante, deu um certo conforto. Funciona de terça a domingo, das 11h30min às 15h.
3 - Dois locais por onde só passei, mas que não conhecia ainda: a Casa Merlin, a maior construção de pedra de Bento Gonçalves (três andares e 400 metros quadrados) - em restauração para abrigar a Casa da Memória Merlin e a sede da Associação Caminhos de Pedra -, e o Parque Casa na Árvore. Este último trata-se de um divertido emaranhado construído pelo artesão Ademir Spezia que chama atenção de quem passa pela estradinha de chão (o acesso é cobrado).
4 - Em geral, uma das minhas desculpas para voltar a um lugar/região/roteiro é almoçar em um restaurante desconhecido. Desta vez, era a Locanda di Lucca, fora do roteiro (e da estrada de asfalto), da qual ouvia falar há muito tempo. É mais do que um restaurante. É o modo de vida que o casal Edgar, enólogo, e Marilei Giordani, arquiteta, e o filho Lucca criaram para eles, em meio a alimentos e vinhos orgânicos. Na recepção, a gaita tocada por Edgar dá uma dica de como é o almoço, interrompido de tempos em tempos para explicar o que se está comendo (sem prejuízo à conversa e à degustação). É lugar para se deixar ficar por muito tempo, slow food mesmo. Apesar do almoço farto, saí leve, mas carregada de mel, vinho, espumante… Funciona de sexta a domingo, sempre com reservas.
5 - Sobrou pouco da tarde, mas ainda houve tempo para comprar um pão recém saído do forno e salame no porão da casa da Cantina Strapazzon, percorrer o caminho até o final só para ter um cheirinho de tudo, e tomar um cafezinho no pátio da Casa Vanni, além de ficar uns minutos contemplando o riacho numa das espreguiçadeiras colocadas nos fundos da casa e ver as novas instalações da Salumeria (que já ocupou o espaço da Casa Angelo) e seu Caminho da Aventura Parque.
6 - O dia só se encerrou mesmo depois de ver o pôr do sol no deck e dar uma conferida nos vinhos da Fontanari. A casa da vinícola é de 1932 e oferece visitas e minicursos. Como cheguei tarde demais, não pude fazer. Em compensação, entrei pela primeira vez na Pousada Casa Barp, que eu sempre só via lá debaixo. A residência de pedra é de 1878 e funciona como pousada e café colonial. Os poucos quartos estavam lotados, e não pude conhecer nenhum, mas a simpatia do proprietário em mostrar tudo por ali já valeu a ida.