Quem precisa de adversários quando tem no próprio partido uma presidente como Gleisi Hoffmann? Que o diga o ministro Fernando Haddad, a quem cabe a duríssima tarefa de guardião de um arcabouço fiscal proposto pelo próprio governo e que para ser cumprido exige cortes de gastos. As resistências internas aos cortes, expressas pela ala mais à esquerda do PT e pelos aliados PDT, PSOL e PCdoB, acabam por jogar Haddad numa fogueira com potencial para incendiar o país.
Todos sabem que um ministro da Fazenda fraco perde a capacidade de negociar com o Congresso e vira refém. Haddad era um azarão quando foi escolhido por Lula para ser ministro da Fazenda. Não era economista, mas Lula o escolheu por ter sido prefeito de São Paulo e um bom ministro da Educação. Haddad surpreendeu os críticos, conseguiu fazer passar o dito arcabouço fiscal como substituto do teto de gastos.
Nestes dois anos, o Brasil tem conseguido derrubar as previsões dos economistas mais céticos em três pontos: o PIB está crescendo acima das previsões, o desemprego vem caindo e a nota de agências de classificação de risco melhorou. Tem problemas? Muitos, mas em vez de ajudar a resolvê-los, o PT prefere fritar o ministro competente, na esperança de emplacar alguém com uma visão mais próxima de um Guido Mantega — que Lula não caia nessa tentação.
O corte de despesas é necessário, porque gastando mais do que arrecada o país precisa se endividar para cobrir o déficit e isso aumenta a dívida pública, cujos encargos consomem recursos que deveriam ser direcionados para as políticas sociais. A questão é no que cortar. Tirar dos pobres que não têm voz é mais fácil do que combater os privilégios — do Judiciário, que se autoncede benefícios, do Legislativo, que suga o orçamento com emendas para atender interesses dos parlamentares, dos altos escalões do serviço público em que o teto não é respeitado, das empresas que recebem benefícios fiscais indefensáveis.
Ruim com Haddad? Pior sem ele ou com o prestígio queimado pelo fogo amigo.