Pela primeira vez desde que o governo federal criou o Ministério da Reconstrução, o governador Eduardo Leite e o titular da pasta, Paulo Pimenta, tiveram uma conversa franca sobre o que incomoda um e outro. O chefe da Casa Civil, Rui Costa, participou da conversa em Brasília como uma espécie de mediador na discussão da relação, que começou bem, lá no início da enchente, e foi se desgastando.
Houve desabafos de parte a parte. Pimenta reclamou de Leite não ter citado o nome do presidente Lula nem o governo federal na entrevista que deu ao Gaúcha Atualidade na quinta-feira da semana passada e de ter tratado do projeto de contenção das cheias do Rio Jacuí, em Eldorado do Sul, como projeto do governo do Estado. Lembrou que o dinheiro para a execução da obra é 100% federal.
Leite reclamou das vezes em que foi excluído de discussões importantes, como no dia em que marcou audiência com o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, para tratar de medidas de proteção aos empregos e acabou não sendo recebido. Naquele dia ele foi a Brasília e voltou de carona com o presidente Lula, que em nenhum momento disse que anunciaria no Rio Grande do Sul o pagamento de dois salários mínimos aos trabalhadores de empresas que se comprometessem a preservar empregos.
Depois de cada um alinhar suas queixas, Rui Costa propôs:
— Vamos esquecer o passado e repactuar a relação. Nas coisas boas, que derem certo, vamos dividir o crédito. No que der errado, vamos compartilhar responsabilidades. Fui governador da Bahia tendo ACM Neto como prefeito de Salvador e nunca tivemos nenhum atrito. A relação é entre governos. Não estamos fazendo uma aliança eleitoral. A reunião terminou com a combinação de que os dois governos vão trabalhar juntos, sobretudo na governança das obras do PAC, sem espaço para disputas políticas.
Esse entendimento é o que a coluna prega desde o início, com a convicção de que ninguém ganhará com o fracasso do esforço de reconstrução do Estado. Se Pimenta quer ser senador ou governador do Estado, terá de mostrar serviço. Se Leite quer ser senador ou tentar um voo mais alto, também terá de mostrar serviço. Só que o foco, agora, não pode ser eleitoral, sob pena de desperdício de energia que deveria ser empregada na recuperação do Rio Grande do Sul.
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