Repercute dentro e fora do Brasil a afirmação feita pelo presidente Lula na entrevista ao Gaúcha Atualidade, dizendo que a Venezuela não é uma ditadura. Em nenhuma outra manifestação o presidente foi tão longe na definição do governo de Nicolás Maduro como um regime “autoritário” e “desagradável”. Mesmo com a insistência da jornalista Andressa Xavier, para que dissesse se considera a Venezuela uma ditadura ou uma democracia, Lula não quis colocar o carimbo.
Quem estava na sala do Plaza São Rafael onde a entrevista foi realizada percebeu o desconforto do presidente. Fluente na resposta às perguntas anteriores, incluindo as que poderiam lhe trazer dissabores com o Congresso, como em relação à restrição a emendas parlamentares, Lula ficou um tanto desconcertado. Ainda que essa pergunta seja recorrente nas entrevistas, a crise na Venezuela se aprofundou nos últimos dias.
Lula admitiu que não concorda com o tom da nota do PT, logo depois da eleição, reconhecendo a vitória de Maduro. Disse que não pode reconhecer o resultado sem ter acesso às atas, mas também não dispõe de elementos para atestar que a oposição venceu. Como a proposta de realizar novas eleições foi rechaçada tanto por Maduro quanto pela oposição, Lula aparentemente lavou as mãos:
— O problema da Venezuela será resolvido pela Venezuela.
O que falta para Lula admitir que a Venezuela é uma ditadura “clássica”? Lula ainda tem ilusão de que a Suprema Corte seja isenta, o que sabidamente não é.
De resto, o regime autoritário de Maduro prende opositores, excluiu da disputa a líder da oposição Maria Corina Machado, proibiu a presença de observadores internacionais na eleição, anunciou sua vitória sem apresentar sequer os boletins de urna, usa as Forças Armadas para se manter no poder, censurou a imprensa local e fechou as portas para a estrangeira, com ameaças e prisão de jornalistas que ousam contar o que veem no seu país
Os mais de 7 milhões de venezuelanos que tiveram de sair do país nos últimos anos não são uma ficção. Espalharam-se pelo mundo para poder sobreviver e, todos os dias, mais gente chega ao Brasil fugindo da fome e da violência política.
É assinante mas ainda não recebe a minha carta semanal exclusiva? Clique aqui e se inscreva na newsletter.