Pretensão pouca é bobagem, diziam nossos avós quando alguém dava um passo maior do que a perna. Esse dito popular se aplica à pretensão do presidente Lula de ser o artífice de um plano que acabe com a guerra na Ucrânia e traga paz duradoura para a região.
A Europa inteira quer a paz, até porque é a maior prejudicada pela guerra depois da própria Ucrânia. Ao dizer que a Europa e os Estados Unidos estão contribuindo para a continuidade da guerra, Lula cria uma animosidade com o continente que visitará nos próximos dias — primeiro com agendas em Portugal e Espanha, depois na coroação do rei Charles III.
Ainda que tenha razão em relação aos Estados Unidos, que ganham com as guerras porque movimentam sua poderosa indústria bélica, a afirmação passa a ideia de alinhamento com a Rússia, o que em nada contribui para as boas relações com o segundo maior parceiro comercial do Brasil.
Somadas a outras manifestações de Lula na China e à visita do ex-chanceler Celso Amorim à Rússia, as palavras criam mal-estar com os Estados Unidos e reavivam a percepção de má vontade do PT com a (ainda) maior potência do planeta.
O que queria o presidente brasileiro? Que a Europa não ajudasse a Ucrânia a se defender? Que a Europa concordasse com as pretensões expansionistas de Vladimir Putin, cujo objetivo é morder pedaços do território ucraniano?
A pior das declarações foi dizer que a Ucrânia tem tanta culpa quanto a Rússia pela guerra. Ora, então o agredido tem a mesma responsabilidade do agressor? Na visão de Lula, deveria a Ucrânia ceder a Putin e entregar uma fatia do seu território ao vizinho?
Lula tem explicitado esse pensamento com a afirmação de que a Ucrânia “provocou” a guerra ao se aproximar da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que a Rússia considera uma ameaça. Quando se olham as imagens de uma Ucrânia semidestruída, com milhares de mortos em um ano de conflito, não há como relativizar a agressão russa.