A indicação de Geraldo Alckmin para o Ministério da Indústria e Comércio pode ser considerada o que há de mais próximo da unanimidade no futuro governo Lula, mas são as escolhas para a Educação as melhores notícias até aqui. Camilo Santana, o ministro que tomará posse em 1º de janeiro, vem de dois mandatos como governador do Ceará, Estado que se tornou referência em educação. Esse processo não começou com ele, mas Camilo soube respeitar a herança recebida, cercou-se de pessoas competentes e deve levar para a Esplanada dos Ministérios uma visão de quem pôs a mão na massa para elevar a régua do ensino público.
Claro que não se pode comparar o Ceará com a Finlândia ou a Coreia do Sul, mas o Brasil precisa de exemplos nacionais para dar o salto que fará a diferença no presente e no futuro. Nas entrevistas que deu até aqui, desde que foi escolhido, Camilo deixou claro que a prioridade do novo MEC será a educação básica, com expansão das escolas de turno integral e do ensino infantil (creche e pré-escola).
Nenhuma dessas boas intenções sairá do papel se Camilo não tiver respaldo do presidente Lula e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Por já ter comandado o Ministério da Educação, Haddad sabe que são necessários recursos, foco e gestão. E já se comprometeu com Camilo a recompor o orçamento para direcionar recursos ao que pode parecer irrelevante à elite, mas é essencial a maioria dos brasileiros pobres: aumento dos investimentos em merenda escolar, sabendo-se que essa é, muitas vezes, a única refeição decente que uma criança faz no dia.
Superada a questão de gênero, que fez muita gente torcer o nariz para Camilo, achando que a titular deveria ser a governadora Izolda Cela, o ex-governador do Ceará tem tudo para acertar a mão. Já acertou escolhendo Izolda para ser a secretária executiva e, portanto, seu braço operacional em um ministério que exige competência técnica e traquejo político.
Outro acerto é escolha da secretária da Fazenda do Ceará, Fernanda Pacobahyba, para comandar o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Parece óbvio, mas entender de finanças é condição para o bom gerenciamento do FNDE.
A visão expressa por Camilo nas primeiras entrevistas, incluindo a desta terça-feira (27) à GloboNews, diverge profundamente da dos anti-ministros (com o perdão da licença poética) que passaram pelo MEC no governo de Jair Bolsonaro, com sua obsessão pelo “combate à ideologia de gênero".
A ideia de que se resolve o problema da educação no Brasil com escolas cívico-militares é tão reducionista quanto a pregação dos ultraliberais em defesa da compra de vagas em escolas privadas. Para fazer a diferença, o Brasil precisa de um plano nacional articulado com Estados e municípios, levando em conta os avanços tecnológicos e as exigências da sociedade globalizada.
Aliás
Uma das tarefas mais urgentes de Camilo Santana à frente do MEC será recuperar a defasagem causada pela pandemia de covid-19, que resultou em retrocesso, evasão e abandono escolar.