A novela em que se transformou a posição do MDB gaúcho na eleição de outubro deve ter um desfecho antes da convenção marcada para 31 de julho. É consenso entre os principais líderes, incluindo o pré-candidato, Gabriel Souza, que seria suicídio esperar até a convenção, porque ninguém quer discutir aliança com o partido sem ter certeza de que, na hora H, a candidatura própria será mantida.
Na reunião com o presidente nacional do MDB, Baleia Rossi, defensores da coligação com o PSDB, que até então estavam em silêncio obsequioso, para não ferir suscetibilidades, criaram coragem para expor sua opinião.
A candidatura própria é consenso no MDB, mas logo vem a conjunção adversativa, seguida de justificativas em favor da coligação. Alguns exemplos: "Mas Gabriel não pode concorrer sem aliança", "mas o discurso será o mesmo de Eduardo Leite, com vantagem para o ex-governador por ter colocado os salários em dia", "mas existe o risco de divididos nem Gabriel nem Leite irem para o segundo turno", "mas não dá para fazer campanha sem dinheiro", "mas existe o risco de as bancadas na Câmara e na Assembleia encolherem".
Um dos participantes da reunião conta que apenas o deputado federal Osmar Terra, bolsonarista convicto, foi enfático contra a aliança com Eduardo Leite e chegou a sugerir que o MDB coloque em discussão a possibilidade de indicar o vice de Onyx Lorenzoni (PL), mas seu discurso não teve eco. Terra disse que Gabriel "está liberado para fazer coligações", mas outros líderes lembraram que o candidato até vem tentando, contudo, a pressão da direção nacional afugenta possíveis parceiros.
Outra voz dissonante na reunião com Baleia foi a da deputada estadual Patrícia Alba (MDB), que preside o MDB Mulher no Estado. Patrícia diz que "ser vice de Leite seria acabar com o partido" e considera que o posicionamento da legenda vai ser tomada apenas na data da convenção, quando, acredita a deputada, a base irá exigir a candidatura própria.
— É muito difícil para o Gabriel se eleger, mas a gente quer estar no governo a qualquer custo? Nós não poderíamos ter colocado a nossa chance de vitória como anexo do PSDB. Isso quebrou o partido e nos fez chegar a esse momento completamente rachados — avalia.
O ex-ministro Luis Roberto Ponte, que é contra aliança, falou mais do quadro nacional. Disse que o MDB deve se preocupar primeiro com o país, depois com o Estado e, por fim, com a sua situação. E fez um longo discurso em defesa do presidente Jair Bolsonaro e contra o apoio de setores do MDB ao ex-presidente Lula.
A manifestação posterior do vereador Cezar Schirmer, que não participou da reunião e com veemência criticou a possível aliança com o PSDB, foi replicada pelo ex-governador José Ivo Sartori, mas não teve repercussão entre os prefeitos, por exemplo, que têm peso importante na convenção.
O presidente da Associação dos Prefeitos e Vices do MDB, Gustavo Stolte, disse à coluna que a opção pela aliança está crescendo no Interior por uma questão pragmática: a constatação de que o partido tende a encolher se for sozinho para a eleição.
— Tem muita gente com o cavalo na sombra, botando o bode na sala dos outros. Estão com a vida feita e ficam só mandando recado pelo Twitter ou por nota oficial — alfinetou o prefeito de Quinze de Novembro, fazendo rir os que assistiram à conversa.
Guto, como é conhecido, é um jovem de 35 anos e identifica nos problemas do MDB um "conflito geracional". Refere-se aos caciques da chamada "velha guarda" e os líderes emergentes, que não veem como ganhar uma eleição contando apenas com "a tradição da candidatura própria", "a história do MDB" e "as inesperadas vitórias de Germano Rigotto em 2002 e Sartori em 2014, que começaram atrás nas pesquisas e venceram a eleição".
O prefeito não disse a quem se referia quando usou a expressão "cavalo na sombra", mas outro líder do MDB entendeu que é uma referência às pensões que recebem Simon e Sartori, como ex-governadores e ex-deputados estaduais (do antigo Feppa), e Schirmer como ex-deputado estadual.
Os prefeitos vão se reunir na próxima segunda-feira (18), na sede do MDB, para discutir a situação.
Convidado para a reunião, Gabriel foi o último a falar. Disse que está pronto para concorrer, mas não pode ficar "com uma espada na cabeça", referindo-se à pressão do MDB nacional pela aliança com os tucanos.
Falou sobre as tratativas com o PSD, que estaria inclinado a indicar Ana Amélia Lemos como candidata ao Senado na chapa, mas recuou diante da incerteza. Relatou as conversas com Beto Albuquerque (PSB) e Vieira da Cunha (PDT) e a pergunta que lhe fazem sobre a segurança da candidatura.
Uma das testemunhas conta que Gabriel reconheceu que está isolado e usou a metáfora do ovo e da galinha, perguntando quem nasceu primeiro: o isolamento ou a incerteza que afasta os possíveis parceiros. O deputado agradeceu aos que se referiram a ele em tom de piedade, dizendo que ele está sendo prejudicado com a demora na definição, mas advertiu:
— Estou, sim, sendo prejudicado. Mas o maior prejudicado é o MDB, que corre o risco de ver suas bancadas encolherem e de reduzir o número de prefeitos em 2024.
Baleia Rossi garantiu que não fará intervenção nem chantagem com o MDB gaúcho, mas insistiu na necessidade de união do que chamou de "centro democrático". Pediu que a Juventude do MDB cancelasse um ato em defesa da candidatura própria, marcado para este sábado (16). O grupo cancelou.
Nesta quinta-feira, Gabriel teve nova reunião com Vieira da Cunha, mas a conversa não avançou. Esbarrou de novo na incerteza em relação ao que fará o MDB nos próximos dias.