Dos 513 deputados que integram a Câmara, nada menos do que 123 aproveitaram a janela de março e trocaram de partido sem risco de perder o mandato. Na Assembeia Legislativa gaúcha, que tem 55 deputados, o troca-troca envolveu 12. Ou seja, quase um quarto virou a casaca.
O festival durou um mês e, alguns, trocaram mais de uma vez, seduzidos por uma proposta mais interessante ou tomados pelo arrependimento ao constatar que haviam entrado em uma canoa furada. Quem mais cresceu foram os partidos do Centrão, entre os quais se inclui o PL do presidente Jair Bolsonaro, o Republicanos, do vice-presidente Hamilton Mourão e o PP, do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do chefe da Casa Civil. Ciro Nogueira. Os três têm em comum o fato de integrarem a base do governo e estarem dispostos a trabalhar pela reeleição de Bolsonaro. O PT do ex-presidente Lula ganhou dois deputados, mas passou de segunda para terceira maior bancada.
Parte das mudanças é consequência da fusão do DEM com o PSL, que resultou na criação do União Brasil. Os que saíram o fizeram por discordar da posição dos caciques contra a reeleição de Bolsonaro, mas o resultado global exibe a fragilidade do sistema partidário brasileiro.
A fidelidade partidária é uma ficção. Pela lei, se um parlamentar abandona o partido pelo qual foi eleito, perde o mandato. Em março do ano eleitoral, porém, abre-se a porteira e começa o troca-troca, raramente por questões programáticas.
O que mais conta na hora de virar a casaca é a chance de se eleger no próximo pleito. Aqui entra a matemática, com o cálculo dos votos necessários para se eleger no partido A ou B, o dinheiro do fundo eleitoral, que financia as campanhas, e o tempo nas inserções de rádio e TV.
Por que os partidos se desdobram para atrair deputados já estabelecidos ou subcelebridades com potencial eleitoral? Para ter mais poder nas negociações de cargos e mais dinheiro dos fundos eleitoral e partidário. A divisão para os quatro anos seguintes é feita conforme o número de deputados federais eleitos. Na nova configuração, o PL passou a ser o maior partido na Câmara, com 73 deputados, seguido do PP com 56 e do PT com 55.
ALIÁS
Os números ainda podem mudar, porque a Câmara segue recebendo comunicações da Justiça Eleitoral sobre a troca de partido por parte de deputados federais. O PL, que elegeu 33 em 2018, pulou para 73.