O dilema do governador Eduardo Leite pode ser resumido na frase célebre de Shakespeare em Hamlet: "ser ou não ser, eis a questão". Talvez seja preciso reinventar a frase para dar o sentido mais preciso da decisão que Leite precisará tomar neste final de verão, para anunciar nos primeiros dias do outono: ser candidato a presidente pelo PSD ou esquecer a palavra dada e concorrer à reeleição.
Para dedicar mais tempo às articulações políticas e conciliá-las com os assuntos do Estado, Leite antecipou em um dia seu retorno ao Brasil e voltará no domingo (13), e não na segunda-feira (14). Na terça-feira (15), em São Paulo, ele tem reuniões com a direção do Banco Itaú, e aproveitará esses dois dias para fazer articulações políticas.
As pressões vêm de todos os lados e os conselhos também, com sugestões opostas. Se depender do pai do governador, José Luis Marasco Leite, ele não disputará um cargo nem outro - a reeleição por ter dito que não iria, e a presidência porque significa deixar o PSDB, seu partido há mais de 20 anos. O pai é um conselheiro respeitado, mas o governador fez 37 anos na quinta-feira (10). É, portanto, maior e vacinado (com três doses, diga-se de passagem).
A todos os que nos Estados Unidos perguntam se entrará na corrida presidencial, o governador responde que está considerando essa hipótese, mas não pode ser candidato de si mesmo:
— Ainda temos conversas pela frente. Ninguém é candidato de si mesmo. Há quem entenda que eu sou a pessoa mais adequada para liderar esse projeto, mas preciso ter certeza de que o desejo de quebrar a polarização Lula-Bolsonaro é para valer e que conseguiremos aglutinar outras forças politicas.
Na noite de quinta-feira, enquanto celebrava o aniversário no bar do Washington Hotel, com vista para a Casa Branca, Leite explicitou esse dilema:
— Aqui nos Estados Unidos, quando falo do nosso governo, repasso tudo o que fizemos e penso na responsabilidade que tenho com a continuação desse projeto. Nesse momento, me dói pensar em renúncia. Quando sou questionado sobre a situação do Brasil e o que precisa ser feito, me empolgo com o projeto nacional.
A cada momento, durante o período em que ficou no bar, Leite consultava o celular. Além dos cumprimentos pelo aniversário, ao longo do dia recebeu mensagens tratando de política. Ao final do dia, contabilizou quase 400 não lidas.
Nesta sexta, Eduardo Leite conseguiu antecipar o voo e retornará ao Brasil domingo para se dedicar às articulações políticas e a pautas do governo. Pela previsão inicial ele ficaria um dia mais em Austin.
Aliás
O grupo que acompanha o governador Eduardo Leite nos Estados Unidos também está ansioso para saber qual será a decisão dele, porque ninguém sabe se continuará no cargo caso ele saia. O secretariado terá uma reforma ampla em qualquer circunstância, com a saída dos que vão concorrer, mas os técnicos devem continuar, seja com Leite, seja com Ranolfo Vieira Júnior.
Frase para pensar
Dividido entre concorrer a presidência pelo PSD e continuar no PSDB, o governador Eduardo Leite encontrou em seu hotel em Washington um quadro com frase emblemática de Winston Churchill, o lendário primeiro-ministro inglês que liderou o Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial:
“Some men change their party for the sake of their principles; other their principles for the sake of their party”.
Em tradução livre: “Alguns homens mudam de partido por causa de seus princípios; outros, seus princípios por causa de seu partido.”
Hambúrger e vinho branco
Os 37 anos de Eduardo Leite foram celebrados com os secretários que o acompanham nos Estados Unidos, no bar do Hotel Washington, onde no final da tarde ele ganhou um bolo de mousse de chocolate de diretores e técnicos do Banco Interamericano de Desenvolvimento, em um happy hour restrito.
Depois da saída do grupo, que incluiu Christopher German, economista chefe da consultoria Eurásia, Leite comemorou o aniversário com hambúrguer e uma taca de vinho branco.
Na hora do brinde, em que todos desejaram saúde e sucesso, o governador disse alto e bom som:
— Ao Ranolfo!
MDB, o enigma
Com o MDB dividido entre Gabriel Souza e Alceu Moreira, e sem prazo para uma definição, o PSDB e o PSD têm dificuldade para articular uma aliança.
Temendo uma fissura mais profunda, os bombeiros do MDB tentam encontrar uma alternativa capaz de unir o partido. O deputado Márcio Biolchi poderia ser essa figura, mas nunca mostrou disposição para concorrer.
Frederico? Presente
Onde estiver o governador Eduardo Leite na visita aos Estados Unidos, ao seu lado estará o líder do governo, Frederico Antunes (PP), solícito e bem-humorado, a menos que o compromisso seja restrito e seu nome não figure na lista dos autorizados a participar das reuniões, como no caso dos bancos.
Mesmo sem falar uma palavra de inglês, Frederico se mantém atento, como se estivesse entendendo tudo.