A viagem do presidente Jair Bolsonaro à Rússia não pode ser tratada com essa visão de oito ou oitenta de seus adversários ou de seus apoiadores apaixonados. O momento, que parecia totalmente inoportuno no embarque, pela previsão de uma invasão da Ucrânia nesta quarta-feira (16), melhorou enquanto Bolsonaro cruzava o Atlântico e parte do território europeu. Quando o airbus presidencial pousou em Moscou, a Rússia já havia retirado parte das tropas que faziam exercícios na fronteira com a Ucrânia e a ameaça de guerra iminente diminuíra.
O sucesso ou fracasso da viagem de Bolsonaro vai depender, primeiro, do que ele falar no encontro com Vladimir Putin ou em eventuais entrevistas. Qualquer palavra fora do lugar pode significar encrenca com parceiros europeus ou com os Estados Unidos, que compram mais produtos brasileiros do que a Rússia e podem se melindrar e promover retaliações.
Se Bolsonaro conseguir bons acordos comerciais, seja para as exportações brasileiras em geral, seja para as importações de fertilizantes – setor em que a Rússia domina pela abundância de matéria prima –, o risco terá valido a pena. Se o filho Carlos Bolsonaro, enxertado na comitiva sabe-se lá com que objetivo, trocar os pés pelas mãos na alimentação das redes sociais do pai, a possibilidade de sinistro político aumenta. Carluxo é incontrolável.
Não há nada de errado em Bolsonaro visitar a Rússia. Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer visitaram Putin no Kremlim. Por que Bolsonaro não deveria estreitar relações com a Rússia? O que diplomatas e estudiosos de relações internacionais questionam é a conveniência de apertar a mão de Putin no momento e a forma como esse gesto poderá ser usado pelo líder russo para mostrar que não está isolado.
Todos os antecessores estiveram em Moscou em tempos de paz. Hoje, com a ameaça de invasão da Ucrânia, Putin está em guerra diplomática com a Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Curiosa é a inversão de papeis. Enquanto Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores de Lula, defende a visita, o ex-chanceler Ernesto Araújo, que comandou a política externa na primeira metade do governo Bolsonaro, condena a viagem.
Embaixador do Brasil em Washington quando Fernando Henrique foi presidente e um dos diplomatas mais respeitados no Itamaraty, Rubens Barbosa diz que seria um erro suspender a visita na última hora. Ensina que essas viagens são programadas com antecedência e só devem ser suspensas em caso de força maior. Se Bolsonaro não embarcasse passaria a ideia de que a política externa brasileira é ditada pela Europa e pelos Estados Unidos.
Aliás
Bolsonaristas como o ex-ministro Ricardo Salles inundaram as redes sociais com memes dizendo que o presidente brasileiro evitou a guerra. Quem tratou a brincadeira como coisa séria perdeu tempo e deu visibilidade a uma bobagem que corre o risco de virar verdade entre os torcedores mais fanáticos.
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