Velho conhecido dos eleitores brasileiros pelas sucessivas tentativas de chegar à Presidência da República, Ciro Gomes (PDT) está de volta, com as garras mais afiadas do que nunca. A rigor, um candidato que já disputou tantas eleições e está em terceiro ou quarto lugar nas pesquisas não deveria ser motivo de preocupação para os adversários, mas Ciro é. Porque sabe explorar as fragilidades de cada concorrente, tem memória enciclopédica e faltam-lhe papas na língua.
Ciro conhece as fragilidades do ex-presidente Lula e expressa com clareza singular a forma como os governos petistas se aliaram a pilantras para garantir maioria no Congresso. De Roberto Jefferson a quem Lula entregou os Correios, pivô do escândalo do mensalão, aos figurões que depenaram a Petrobras. Com uma retórica que combina vocabulário extenso e expressões populares de fácil assimilação, aponta os erros do governo Jair Bolsonaro, a quem considera um desclassificado, e diz que só foi eleito porque os brasileiros estavam cansados do PT.
De Sergio Moro, com quem aparece tecnicamente empatado nas pesquisas, resume a biografia em uma frase: "o juiz que rasgou a toga ao aceitar ser ministro do candidato que se elegeu porque ele tirou o principal adversário da disputa".
O ex-governador do Ceará desafia os adversários a participarem de debates porque sabe que esse é um dos seus pontos fortes. Denuncia um conluio de Lula e Bolsonaro para reduzirem ao mínimo a participação, porque os dois querem um ao outro como adversário no segundo turno.
O desafio de Ciro é justamente provar que não é apenas destruidor de reputações (como acusa o PT de ser), mas um candidato com propostas que param em pé para tirar a educação brasileira do limbo, usando como inspiração o que se fez no Ceará, combater a miséria que se agravou na pandemia, acabar com as emendas de relator, que, se investigadas como no tempo da Lava-Jato, poderiam resultar no “orçamentão”.
O problema de Ciro é que ele está sozinho, enquanto seus adversários encaminham alianças e usam capital político e financeiro (leia-se fundo eleitoral) para atrair apoio de segmentos que podem fazer a diferença na hora da eleição. Na hipótese de ser eleito, Ciro terá de lidar com as mesmas dificuldades de qualquer outro: compor com um Congresso que, dificilmente, terá grandes alterações no perfil e com quem ele espera contar para fazer alterações profundas na Constituição nos primeiros seis meses.
Aliás
Goste-se ou não de Ciro Gomes, ele tem razão quando defende os debates. Porque é o melhor jeito de se conhecer os candidatos como eles são, sem o papel de seda em que aparecem embrulhados na propaganda eleitoral e sem o vale-tudo na terra sem lei das redes sociais.