Ao entrar em seu último ano de governo, o presidente Jair Bolsonaro vive a angústia de ter de transferir o cargo por algum tempo ao general Hamilton Mourão, se precisar de uma nova cirurgia. Nada mais natural, sendo Mourão o vice-presidente da República, mas as relações entre os dois se deterioraram desde a posse. Bolsonaro não quer Mourão como companheiro de chapa na eleição de 2022 e já despachou do hospital, em condições precárias, para não ter de passar o cargo a um vice no qual não confia.
A saúde do presidente será fator decisivo para sua decisão de concorrer ou não ao segundo mandato. Hoje, Bolsonaro é candidatíssimo, mas se a situação se complicar e ele optar por não disputar, muda o rumo da sucessão, hoje encaminhada para um segundo turno entre o ex-presidente Lula e ele.
A decisão sobre fazer uma nova cirurgia será tomada pelo médico Antônio Luiz Macedo, que interrompeu as férias nas Bahamas para atender o presidente, internado às pressas na noite de domingo. Antes de ver o paciente, Macedo opinou que, provavelmente, a cirurgia será desnecessária, porque o quadro é semelhante ao da última vez que o presidente se internou para resolver um problema de obstrução intestinal.
Caso precise fazer a cirurgia agora ou em algum momento antes de abril deste ano, é Mourão quem assume se Bolsonaro ficar internado sem condições de governar. A partir de abril, existe a possibilidade de o Brasil ser governado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux. Ocorre que os primeiros da linha de sucessão (Mourão, inclusive) devem ser candidatos a algum cargo em 2022 e ficarão inelegíveis se ocuparem a cadeira presidencial.
Mourão deve concorrer a governador ou senador pelo Rio de Janeiro, embora possa disputar algum cargo pelo Rio Grande do Sul. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), será candidato à reeleição e tentará emplacar mais um mandato no comando no cargo atual. Rodrigo Pacheco (PSD-MG) ainda tem mais quatro anos de mandato como senador, mas poderá ser candidato a presidente ou a vice. O próximo na linha de sucessão é Fux.
O quadro de Bolsonaro, de fato, se assemelha ao da outra internação, que foi precedida de uma crise de soluços. Desta vez, o que chama atenção é que, aparentemente, ele estava bem nos últimos dias. Tanto que andou de jet ski e de moto, se encontrou com admiradores, comeu e bebeu como quem não tem nenhum problema.
Foi depois do almoço de domingo que começou a se sentir mal, com dores abdominais. Dois indícios de que o caso é sério: ele deixou São Francisco do Sul por volta da meia-noite, de helicóptero, e embarcou em um avião em Joinville, rumo a São Paulo, para se internar durante a madrugada no Hospital Vila Nova Star. E seu médico precisou interromper as férias no Caribe para atender o paciente ilustre.
Aliás
A possibilidade de Jair Bolsonaro não disputar a reeleição é considerada remota, mas poderia se tornar realidade em dois casos: problemas de saúde ou constatação de que seria derrotado e que, para garantir o foro privilegiado, é melhor disputar uma cadeira no Senado.