Os encontros regionais do MDB, idealizados pelo presidente Alceu Moreira com o objetivo de discutir as bases de um plano de governo e mobilizar o partido, acabaram mostrando uma fratura que só o ex-governador José Ivo Sartori pode consertar. A ideia de anunciar o candidato no dia 4 de dezembro esbarrou na resistência dos que não querem Alceu disputando o Piratini, divididos em dois grupos distintos: os que preferem outro nome e os que, nos bastidores, trabalham para que o partido indique o vice de Luis Carlos Heinze (PP) e se jogue nos braços do bolsonarismo.
A prévia defendida pelo MDB de Porto Alegre só teria sentido se houvesse mais de um pré-candidato brigando pela vaga. Se há, ainda não mostrou a cara. Alceu é o único que assume o desejo de ser candidato. O deputado Gabriel Souza, que tem o Piratini nos planos futuros, jamais disputaria a indicação com Alceu. Osmar Terra? Cezar Schirmer? José Paulo Cairoli, o ex-vice agora filiado ao MDB? O recém-chegado Roberto Argenta? Sartori, se aceitar concorrer, não precisa de prévia. Será aclamado.
O problema é que Sartori mantém a postura de esfinge. Não dá entrevistas desde que deixou o Piratini e aos companheiros não fecha totalmente a porta, mas também não abre mais do que uma fresta. Se for candidato e se eleger governador, Sartori não poderá continuar ganhando a pensão de R$ 30,4 mil que recebe como ex-governador. Terá de abrir mão para receber um subsídio de R$ 25 mil, porque no Rio Grande do Sul ex-governador ganha mais que o titular.
Que motivação teria para concorrer quem já governou o Estado e sabe que seus antecessores que tentaram fracassaram? Antônio Britto, que se elegeu em 1994 e perdeu no segundo turno em 1998 tentou uma terceira vez e sequer chegou ao segundo turno. Olívio Dutra que se elegeu em 1998, tentou de novo em 2006 e perdeu para Yeda Crusius no segundo turno. Na história do Estado pós-regime militar, nenhum ex-governador conseguiu retornar ao Piratini. Se Sartori for a exceção e se reeleger, o que poderá fazer de diferente, se a crise financeira tende a continuar e há risco de o Estado voltar a atrasar salários?
Os encontros regionais do MDB têm mostrado que a ala favorável a uma aliança com Heinze é minoritária — ou está camuflada. Deixar a escolha para abril ou maio não seria nenhum problema, se Sartori aceitar concorrer. Mas e se lá perto da metade do ano ele disser que não quer? Neste caso, restaria ao MDB se conformar com o papel de coadjuvante, ele que desde 1982 sempre foi protagonista, apresentou candidatos em todas as eleições e venceu quatro.