Lá se vão quase dois anos e nove meses desde que deixou o Palácio Piratini e o ex-governador José Ivo Sartori mantém o silêncio que se impôs desde que entregou o cargo e passou a viver como “cidadão comum”, se é que isso é possível para alguém tão conhecido. Na quinta-feira, Sartori saiu do seu refúgio para visitar o presidente da Assembleia, Gabriel Souza (MDB), que foi seu líder de governo.
Todas as tentativas de puxar assunto sobre a eleição de 2022 e sua possível candidatura a governador ou a senador fracassaram. O máximo que o deputado conseguiu arrancar de Sartori foi a promessa de que ajudará o MDB na eleição de 2022.
— O gringo segue sendo uma esfinge. Está de alma leve, contando histórias e piadas, mas não quer falar da eleição — sintetizou Gabriel, que gostaria que Sartori fosse candidato por entender que ele é “patrimônio do MDB”.
A visita só saiu depois de uma cobrança pública de Gabriel. No dia em que concedeu a medalha do Mérito Farroupilha ao deputado Giovani Feltes, ex-secretário da Fazenda, o presidente da Assembleia cobrou de Sartori, que participava pela internet, uma visita presencial.
O ex-governador elogiou o deputado e, quando posaram para a foto, fez um gesto que poderia ser interpretado como indicação para concorrer, mas Gabriel jura que não:
— Ele faz esse gesto com todo mundo.
Nas pesquisas encomendadas por diferentes partidos, o nome do ex-governador aparece bem colocado para o Senado, mas, se isso o entusiasma, Sartori não deixa transparecer. Ele não diz, mas o desinteresse em ser candidato pode ser explicado por uma questão pessoal: se for eleito para algum cargo, Sartori terá de exercê-lo de forma voluntária. Se voltar a ser governador, estará pagando para trabalhar.
Ocorre que Sartori recebe pensão de ex-governador, no valor bruto de R$ 30,4 mil. Se retornar ao Piratini, terá de abrir mão dessa pensão e se contentar com os R$ 25,3 mil do salário de governador. Sim, por uma dessas anomalias que vigoraram até agora, os ex-governadores ou suas viúvas ganham mais do que quem está no exercício do cargo. Leite só terá direito à pensão por quatro anos. Os próximos, nem isso.
Caso se eleja senador, Sartori também teria de renunciar à pensão, mas ficaria, do ponto de vista financeiro, quase “elas por elas”, com o inconveniente de ter de trocar a vida entre Porto Alegre e Caxias do Sul para viver em Brasília ou enfrentar o vaivém semanal.