A pandemia impediu que todos os ex-governadores do Rio Grande do Sul vivos participassem da celebração dos 100 anos do Palácio Piratini, mas os cinco que aceitaram o convite do governador Eduardo Leite sentiram-se literalmente em casa. Os outros mandaram mensagens de áudio ou vídeo.
O clima de confraternização deixou de lado as diferenças políticas: o anfitrião, tucano, recebeu dois ex-governadores do MDB (Pedro Simon e José Ivo Sartori), um do PP (Jair Soares), um do PT (Olívio Dutra) e uma companheira de partido, Yeda Crusius, única mulher a governar o Estado. A celebração foi transmitida ao vivo pela internet.
Leite disse que na impossibilidade de ter um grande número de pessoas, optou por convidar os ex-governadores porque representam milhares de gaúchos e gaúchas:
— No último século, os principais episódios da vida política do Estado foram vividos no palácio. Fatos, personagens e vidas se misturaram, construindo a identidade política gaúcha. Cada um a seu tempo, do seu jeito e no período que lhe foi reservado para ser governador do nosso Estado, usou deste espaço para fazer a grande política, a política que move, que me inspira e que, certamente, mobilizou tantas outras pessoas ao longo de seus mandatos.
Testemunha de parte do encontro, a secretária da Cultura, Beatriz Araújo, ficou positivamente impressionada com o clima amistoso do encontro e a gentileza de cada um. Decano do grupo, Simon, de 91 anos, definiu o encontro como “muito bacana”:
— Levamos nossa solidariedade ao governador Eduardo Leite, que está lutando contra essa crise terrível. Gosto dele, acho que ele é muito firme.
Ao falar na solenidade, Simon destacou a importância de lembrar o passado:
— Só podemos construir o futuro com grandeza olhando, respeitando o passado, e continuando a fazer aquilo que nossos irmãos fizeram. Estamos aqui hoje para dizer que continuamos à disposição, porque o entendimento é o mesmo, o Rio Grande do Sul precisa de nós, principalmente nesta hora tão dramática e tão difícil para o Brasil e para o Estado.
Jair Soares, o primeiro eleito após o restabelecimento das eleições diretas, em 1982, impressionou pelo vigor físico e pela boa memória. Contou a história da ocupação, em 1921, pelo então governador Borges de Medeiros, que não esperou o prédio ficar pronto. No breve discurso, disse que sente orgulho de ter sido eleito pelo voto democrático:
— Sinto orgulho por estar aqui ao lado de governadores que foram eleitos após o meu período. Muitos gaúchos forjaram nossa história, muitas vezes desconhecida, porque ela não foi contada, como neste momento está sendo feito.
Olívio, último governador a residir no Piratini antes de Leite, também estava à vontade e destacou o simbolismo que o palácio tem como representação cultural da história do Rio Grande do Sul:
— É um símbolo não só do poder político do Estado, mas também de um espaço cultural, fecundado por histórias e episódios importantes para o Estado e para o país. Esse prédio precisa ser constantemente preservado, cuidado, e essa equipe faz isso. Tem arquitetos, engenheiros, sociólogos, historiadores, professores, mão de obra da construção civil. Tem sido uma preocupação de todos os governantes a manutenção de uma equipe para preservar, conservar e qualificar.
Yeda, que investiu na restauração do piso, homenageou as pessoas que cuidam do patrimônio:
— Quero aqui fazer uma referência muito especial ao tempo em que pude acompanhar quem faz, mantém e valoriza o patrimônio, a equipe que fez a restauração desse palácio. Graças a arquitetos, conhecedores de todos os materiais, chegamos a uma obra como essa. E essa madeira foi encontrada guardada, apreendida na Amazônia, porque ia ser exportada e não poderia ser. É a mesma madeira original, não no tempo, mas é a mesma madeira com que fizeram o primeiro piso do Palácio Piratini há 100 anos.
Foi a primeira vez que Sartori pisou no Piratini desde que deixou o governo. De bom humor, brincou com servidores e disse que recorda com alegria os momentos em que recebeu prefeitos, parlamentares e membros da sociedade civil:
— Essa é uma lembrança que vai ficar no coração dos funcionários, servidores, daqueles que cuidam deste patrimônio histórico e cultural do Rio Grande do Sul. Isso é importante porque deve servir de testemunho e de exemplo para tantas outras questões ligadas não apenas ao palácio, mas a todas as outras questões de memória do nosso povo.
A organização se dispôs a mandar um carro com motorista buscar os governadores em casa, mas dois não aceitaram: Olívio e Yeda, que chegou meia hora atrasada, esbanjando energia e bom humor.
Depois de uma apresentação artística, Leite ofereceu um almoço aos ex-governadores. Dos cinco, apenas Olívio não ficou para o almoço, que teve filé e risoto no cardápio, e terminou com os tradicionais doces de Pelotas na sobremesa.
Por amor
Apesar de já ter recebido as duas doses da vacina contra a covid-19, o ex-governador Germano Rigotto optou por não comparecer à celebração dos 100 anos do Palácio Piratini, por amor à esposa Cláudia. Com 59 anos de idade e sem comorbidades, Cláudia não sabe quando chegará sua vez de se vacinar. Rigotto diz que, para protegê-la, só aceita compromissos virtuais.
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