Vista por quem está de fora, a tentativa do governador Eduardo Leite, 36 anos, de sair candidato a presidente pelo PSDB parece uma daquelas empreitadas sem futuro, dada a força da concorrência. Do outro lado está o governador de São Paulo, João Doria, 63 anos, com toda a estrutura que o dinheiro é capaz de garantir. Não seria exagero dizer que é a campanha do tostão contra o milhão. Mesmo assim, Leite segue em frente, confiante de que a vitória é difícil, mas não impossível.
Não é só a diferença de patrimônio que salta aos olhos — Doria é milionário e Leite não tem nada além do subsídio de governador — mas a desproporção entre os Estados que governam. São Paulo tem R$ 22 bilhões para investir. O Rio Grande do Sul, até oito meses atrás, não conseguia sequer pagar os salários em dia. O orçamento de 2022 será deficitário. Os recursos para investimentos são escassos e só agora, com a venda da CEEE, o governo terá algum dinheiro para aplicar.
O governador gaúcho faz campanha basicamente aos fins de semana, em viagens custeadas pelo PSDB, com estrutura mínima de assessoria. Doria tem uma equipe de campanha completa. No final da tarde desta sexta-feira (10), antes de embarcar para Campo Grande, onde jantaria com o governador tucano Reinaldo Azambuja, Leite disse à coluna que sabe das dificuldades, mas não esmorece porque acredita no convencimento pelas propostas e tenta buscar votos fora de São Paulo.
— A partir de 20 de setembro, com a inscrição das candidaturas para a prévia, é que a campanha vai começar. Tenho sido muito bem recebido por onde passo e isso me anima a prosseguir.
Neste sábado, Leite participa de um evento em Cuiabá (MT), fechando assim 11 Estados visitados em busca do voto dos tucanos que escolherão o candidato em 21 de novembro. Até aqui, são quatro pré-candidatos: além de Leite e Doria, o senador Tasso Jereissati (CE) e Arthur Virgílio, ex-prefeito de Manaus (AM). A expectativa do governador é conquistar o apoio de Tasso, com quem ele tem excelente relação. Se conseguir, será um diferencial competitivo, já que Doria ganhou o aval do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
À frente do marketing da candidatura de Leite está o publicitário Fábio Bernardi, responsável pela campanha vitoriosa de 2018, trabalhando como voluntário. Foi dele a a ideia do vídeo divulgado em 4 de setembro nas redes sociais, com o título “Ninguém vai roubar as cores do Brasil”, pregando a união, a paz e o respeito. Leite entrou com o texto e Bernardi com a edição. É de Bernardi, também, o roteiro e produção de outro vídeo, apresentando Leite como um político moderno e conciliador, em oposição aos que optam pelo caminho do radicalismo.
Amigo e conselheiro de Leite na economia, mas com visão mais ampla dos dilemas da gestão pública, especialmente os que envolvem a educação, o ex-secretário da Fazenda Aod Cunha faz a ponte entre o governador e setores importantes do mercado financeiro e do mundo empresarial. Foi Aod - outro voluntário - quem apresentou o jovem tucano aos principais economistas do Brasil e coordena as discussões de conteúdo, embrião de um futuro programa de governo, caso Leite vença a prévia do PSDB.
Nas andanças pelo Brasil, Leite em geral é acompanhado pelo ex-prefeito Nelson Marchezan, que conhece os principais líderes tucanos por ter sido deputado federal.
Presidente estadual do PSDB, o deputado federal Lucas Redecker reconhece que Doria tem mais estrutura e mais recursos para a campanha nas prévias, mas elenca trunfos que podem levar Leite à vitória: os resultados de sua gestão, o perfil diplomático e a baixa rejeição, dentro e fora do PSDB.
— O governador Leite tem capacidade de articulação, não é uma pessoa do conflito, é alguém que contemporiza e governa para todos. Tem muito menos rejeição que o Doria.
E completa:
— Nem sempre, em uma campanha política, quem tem mais estrutura ganha. Fosse assim, o Alckmin (Geraldo Alckmin, candidato a presidente pelo PSDB em 2018) teria vencido o Bolsonaro.
A rejeição de Doria entre os aliados de Alckmin é outro trunfo de Leite. O ex-governador está de saída do PSDB para o PSD, por desentendimento com Doria, que em 2018 tentou boicotar sua candidatura e, em 2022, lançou o vice-governador Rodrigo Garcia à sucessão, atrapalhando os planos de Alckmin de voltar ao Palácio dos Bandeirantes. A dúvida é se os tucanos ligados a Alckmin ainda estarão no PSDB no dia da prévia ou terão migrado com ele para o PSD.
Contra Bolsonaro
Eduardo Leite embarcou para Mato Grosso do Sul sem ter decidido se participará dos atos de 12 de setembro, mas a tendência é que "desfile no chão" em Porto Alegre.
—Não descarto participar. Mas se for, irei como cidadão, na rua, e não em palanque. Estou avaliando as condições de participar para não causar transtornos aos organizadores — disse à coluna antes de embarcar.
A avaliação preliminar do governador é de que os adversários do presidente Jair Bolsonaro precisam mostrar força e deixar de lado, por um dia, eventuais divergências.
Apesar de estar convencido de que “técnica e juridicamente Bolsonaro cometeu crime de responsabilidade”, Leite diz que o ambiente político ainda está se formando e não há como precipitar os movimentos.
—Não podemos banalizar o impeachment, mas não podemos permitir que se banalize a Presidência da República como Bolsonaro está fazendo — diz o governador.