Em pronunciamento na tribuna da Câmara nesta quarta-feira (25), a vereadora de Porto Alegre Fernanda Barth (PRTB) anunciou que ainda não tomou a vacina contra o coronavírus, e disse que vai esperar "o momento em que achar oportuno" para se imunizar. Para justificar a decisão, disse que realiza exames "de três em três meses" e que os resultados apontam que estaria imune para a doença — ela contraiu a covid-19 em dezembro do ano passado.
— Pessoas que já estão imunizadas naturalmente - e a imunização natural é muito superior à vacina - não podem ser obrigadas a ser vacinadas. Isso é um princípio básico — declarou, em seu discurso.
Bolsonarista convicta, a parlamentar usou o argumento da "liberdade individual" para defender o direito de não se vacinar e criticou o passaporte sanitário, medida adotada em boa parte das grandes cidades do mundo para a retomada da circulação de pessoas. Em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo desautorizou a Secretaria da Saúde a adotar o passaporte, após receber reclamações de Fernanda e da também vereadora Comandante Nádia (DEM).
No discurso, ela ainda disse que ninguém pode ser obrigado a "tomar uma vacina experimental" e que a CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan, é "quase um placebo". O presidente Jair Bolsonaro tem dito que não se vacinou e tenta desqualificar a CoronaVac, ignorando os estudos que mostram a redução da mortalidade entre idosos, graças à vacina.
Fernanda Barth foi à tribuna para responder um pronunciamento do vereador Clàudio Janta (SD), que defendeu a vacinação e a adoção do passaporte vacinal em Porto Alegre.
— Mais necessário do que nunca, quando se liberar para todo mundo começar a trabalhar e (as empresas) funcionar, é ter o passaporte de vacinação. Ou algum dos membros dessa Casa aqui não se vacinou? — questionou Janta.
O vereador sustentou que o direito individual não pode se sobrepor ao direito coletivo de não se contaminar, e voltou a perguntar:
— Alguém aqui nesse plenário dos 36 vereadores foi valente o suficiente para não tomar a vacina?
Fernanda Barth se acusou, e Janta reagiu:
—A senhora não tomou, vereadora, nem a primeira nem a segunda dose? A senhora é uma irresponsável por estar aqui contaminando a todos nós. A senhora é uma irresponsável. Irresponsável!
Também na tribuna, a vereadora Comandante Nádia usou argumentos parecidos com os de Fernanda para se posicionar contra a vacinação obrigatória e o passaporte sanitário para ingresso em eventos. Disse que se as pessoas confiam na vacina, não precisam ter medo de se contaminar por indivíduos não-vacinados, ignorando o princípio da imunidade coletiva.
Questionada pela coluna se tomou a vacina, Nádia esquivou-se:
— A situação sanitária de uma pessoa diz respeito a ela e seu médico única e exclusivamente. O próprio Código de Ética Médico prevê esse sigilo.
Além de Clàudio Janta, foram à tribuna para criticar o discurso de Fernanda Barth e defender a vacinação obrigatória e o passaporte vacinal as vereadoras Daiana Santos (PCdoB), Bruna Rodrigues (PCdoB) e Mônica Leal (PP) e os vereadores Leonel Radde (PT) e Jonas Reis (PT).
Argumentos não se sustentam
Os argumentos utilizados por Fernanda Barth para defender o direito de não se vacinar não encontram respaldo nos estudos científicos sobre o coronavírus. Como as vacinas reduzem a carga viral, uma pessoa vacinada que já teve a doença, se for infectada, pode ter menos capacidade de espalhar a doença para outras pessoas. Além disso, as possibilidades de reinfecção ainda estão sendo estudadas.
Em entrevista recente a GZH, o presidente da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), Juarez Cunha, salientou que a proteção com a vacina é superior à imunização natural obtida por quem teve covid-19 e se recuperou.
— O que é relatado pela literatura científica é que a resposta imune é maior nos vacinados do que nas pessoas que já tiveram covid-19. Além disso, quem já teve covid-19 e se vacina responde melhor ainda à vacinação — aponta o médico.
Como as vacinas comprovadamente reduzem as chances de internações por covid-19, cada pessoa que se vacina ajuda a evitar colapsos no sistema hospitalar e, portanto, ajuda a garantir leitos para outras pessoas, com todas as enfermidades.
Ao contrário do que disse Fernanda Barth, a CoronaVac não é "quase um placebo". O imunizante tem eficácia geral de 50,4% contra a doença. No Chile, um estudo científico publicado na revista científica The New England Journal of Medicine demosntrou que houve 86,3% de eficácia na prevenção de mortes causadas pelo vírus.
Vereadora divulga nota
Após a publicação desta nota, a vereadora Fernanda Barth divulgou um comunicado oficial. Leia a íntegra:
Sobre a menção de que a parlamentar que fez considerações sem bases científicas, ela destaca que todos os dados presentes em seu discurso (que também segue em anexo na íntegra) foram baseados em materiais disponíveis e até já divulgados pela imprensa nacional e mundial.
A vereadora reforça, ainda, que em nenhum momento citou que não acredita na ciência, aliás, a mesma acredita muito em pesquisa científica séria e em médicos comprometidos em salvar vidas. Destaca, também, que a vacinação não é obrigatória e que não irá aceitar criminalização e discriminação de não vacinados. “Estes mesmos que defendem que o direito coletivo prevalece sobre o individual, são os mesmos que em regimes extremistas criam campos de concentração e marcam pessoas”, aponta.
Quanto ao fato de que vacinados transmitem Covid-19, está comprovado de acordo com pesquisa da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), publicado na plataforma britânica The Lancet. Também o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), do governo dos Estados Unidos, apresentou um relatório sobre a preocupação de que pessoas vacinadas podem transmitir a doença da mesma forma que as não imunizadas. A explicação é que os imunizantes contra a covid-19 não impedem que o indivíduo contraia a doença, apenas que fiquem em estado grave.
Quanto ao fato de que a Anvisa não recomenda vacinas pra crianças e adolescentes, foi negado de forma unânime pela agência o pedido do Butantan para incluir crianças e adolescentes (de 3 a 17 anos) entre as pessoas que podem receber a Coranavac no Brasil. No Brasil, somente a vacina da Pfizer é aprovada para maiores de 12 anos.
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