Já que o ministro da Defesa, general Walter Braga Neto, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), dizem que jamais houve ameaça por parte do primeiro à realização da eleição de 2022, tomemos essas palavras como um compromisso das Forças Armadas de que não darão aval a atos golpistas. Os dois classificaram como mentira a reportagem do jornal O Estado de S.Paulo, segundo a qual o general teria feito chegar a Lira um aviso de que a realização da eleição estaria condicionada à aprovação do voto impresso. O jornal reafirma a veracidade das informações, baseadas em fontes que não quiseram se identificar.
Impedir a eleição de 2022 caso o Congresso confirme a tendência de não aprovar o voto impresso em tempo hábil seria um golpe rasteiro, semelhante ao que fez Hugo Chávez na Venezuela e que garantiu a continuidade de seu desgoverno com Nicolás Maduro. Registre-se que Chávez ficou no poder até a morte com apoio das Forças Armadas e de uma base política construída a partir do enfraquecimento das instituições, com o aniquilamento da oposição e da imprensa.
Acrescentemos a essas “garantias” a afirmação do vice-presidente da República, o também general Hamilton Mourão, de que “é lógico que vai ter eleição”, mesmo sem o voto impresso.
— Quem é que vai proibir eleição no Brasil? Por favor, gente. Nós não somos república de bananas — disse Mourão ao chegar ao Palácio do Planalto, no início da tarde desta quinta-feira (22).
São manifestações importantes, que contrariam declarações do presidente Jair Bolsonaro, de que sem voto impresso não haverá eleições em 2022.
— Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições — disse Bolsonaro a apoiadores, no dia 8 de julho, em frente ao Palácio da Alvorada.
Falar em “eleições limpas” como sinônimo de voto impresso significaria dizer que todas as outras foram sujas, incluindo a de 2018, quando Bolsonaro foi eleito. É o que o presidente sustenta, sem provas, há 500 dias. Na sua megalomania, acha que ganhou no primeiro turno uma eleição que tinha 13 concorrentes. Relembrando, somente Fernando Henrique Cardoso, em 1994 e 1998, se elegeu no primeiro turno.
Bolsonaro fez 46,03% dos votos no primeiro turno de 2018, Fernando Haddad (PT), 29,28% e Ciro Gomes (PDT), 12,47% e Geraldo Alckmin (PSDB), 4,76%. Ou seja: esses três adversários somados tiveram mais votos do que ele, mas havia ainda outros menos expressivos no páreo.
Ora, o sistema é basicamente o mesmo desde que a urna eletrônica foi adotada. Ninguém questiona a lisura do pleito de 2020, quando os brasileiros elegeram mais de 5 mil prefeitos e milhares de vereadores. Por que agora essa obsessão por uma mudança que, para valer, precisa estar aprovada em dois turnos na Câmara e no Senado até 2 de outubro?
Voltando a Braga Netto, no texto escrito em que desmentiu a reportagem do Estadão, o ministro reafirmou a defesa do que chamou de “voto eletrônico auditável”, sinônimo de voto impresso acoplado à urna eletrônica. O comprovante, pela proposta em discussão no Congresso, cairia direto em um recipiente lacrado, que só seria aberto em caso de contestação do resultado naquela seção.
Para que se possa cobrar depois, convém guardar a nota divulgada pelo ministro da Defesa:
“Em relação à matéria publicada em veículo de imprensa, no dia de hoje, que atribui a mim mensagens tentando criar uma narrativa sobre ameaças feitas por interlocutores a Presidente de outro Poder, o Ministro da Defesa informa que não se comunica com os Presidentes dos Poderes, por meio de interlocutores. Trata-se de mais uma desinformação que gera instabilidade entre os Poderes da República, em um momento que exige a união nacional.
O Ministério da Defesa reitera que as Forças Armadas atuam e sempre atuarão dentro dos limites previstos na Constituição. A Marinha do Brasil, o Exército Brasileiro e a Força Aérea Brasileira são instituições nacionais, regulares e permanentes, comprometidas com a sociedade, com a estabilidade institucional do País e com a manutenção da democracia e da liberdade do povo brasileiro. Acredito que todo cidadão deseja a maior transparência e legitimidade no processo de escolha de seus representantes no Executivo e no Legislativo em todas as instâncias.
A discussão sobre o voto eletrônico auditável por meio de comprovante impresso é legítima, defendida pelo Governo Federal, e está sendo analisada pelo Parlamento brasileiro, a quem compete decidir sobre o tema.
Walter Souza Braga Netto
Ministro de Estado da Defesa”
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