Uma das participantes da manifestação contra as medidas restritivas impostas pelo governador Eduardo Leite, a advogada Doris Denise Neumann gravou um vídeo em que cita a frase em alemão “Arbeit macht frei” para defender “o direito de trabalhar”. A expressão, que significa "o trabalho liberta", pode ser lida ainda hoje nos portões do que restou dos campos de concentração da Alemanha nazista
— Os alemães vão entender a frase que eu vou falar: Arbeit macht frei. Não foi isso que a gente aprendeu? Que o trabalho nos faz ser livre (sic). Pois aqui nós estamos reivindicando o trabalho. Se o governador que foi posto por nós no poder para a decisão não decidir que nós possamos trabalhar, a gente tira ele — diz a advogada, em vídeo que circula nas redes sociais.
Doris foi candidata a prefeita de Nova Petrópolis pelo Patriota em 2020 e ficou em último lugar, com 1.347 votos.
O empresário Gerson Holz, de Nova Petrópolis, disse à coluna que a cidade está envergonhada:
— Nós, alemães de Nova Petrópolis, temos repulsa ao nazismo. Essa é a mensagem que precisamos passar.
Representantes da comunidade judaica pediram providências à Secretaria da Segurança Pública e ao Ministério Público, alegando “discurso de ódio”. O vice-governador e secretário da Segurança, Ranolfo Vieira Júnior, informou que já pediu à Polícia Civil que instaure procedimento policial.
O procurador-geral de Justiça, Fabiano Dallazen, informou que encaminhará o vídeo à promotoria criminal para apuração.
A Federação Israelita do Rio Grande do Sul divulgou nota em repúdio ao que chamou de “atitude vil da sra. Dóris Denise Neumann”.
A coluna tentou contato com Doris por telefone, mas ela não atendeu as ligações.
Leia a íntegra da nota da FIRS:
"NOTA DE REPÚDIO
A FIRS - Federação Israelita do Rio Grande do Sul vem a público manifestar seu repúdio à atitude vil da Sra. Dóris Denise Neumann, ex-candidata à Prefeita na cidade de Nova Petrópolis, expressada na tarde desta quarta-feira, 10, durante manifestação em frente ao Palácio Piratini, em Porto Alegre.
É amplamente conhecida a relação da frase “o trabalho liberta” com a mais infame instituição do Holocausto, o campo de concentração de Auschwitz. Ali, no seu portão de entrada, uma placa com esses dizeres transmitia a mentira de que aquele era um local de trabalho e de possível liberdade, quando se tratava da principal fábrica nazista de extermínio em massa.
É lamentável ver, mais uma vez, manifestações perniciosas que vulgarizam e banalizam a memória do Holocausto e dos sobreviventes e ofendem o povo alemão, em um momento já tão difícil do nosso país e do mundo. Entoar a frase, como chamada de ordem, em pleno centro de Porto Alegre, é gravíssimo e inaceitável em pleno 2021.
A pandemia de COVID 19 é apenas um exemplo de quanto os seres humanos são iguais e, por isso, responsáveis uns pelos outros. Respeitemos a vida, a história e a memória.
Sebastian Watenberg
Presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul"