As mensagens carinhosas começaram a chegar cedo. Hoje é Dia do Jornalista. Nunca fomos tão desafiados como neste ano sombrio de 2020, em que pela primeira vez tivemos de desfazer nossa redação e trabalhar em casa para continuar informando, interpretando, opinando e desmentindo boatos. Por ficarmos ao lado da ciência, na briga contra o achismo e os interesses da baixa política, somos bombardeados nas redes antissociais. Mas seguimos com a certeza de que nosso papel nunca foi tão importante como é agora, quando estar informado pode ser o que faz a diferença entre a vida e a morte.
Ainda não consegui agradecer à maioria das mensagens, porque passo o dia envolvida com informação. Acordo conectada, porque preciso me atualizar para o Gaúcha Atualidade. Agora que o jornaleiro não sobe mais até o nosso andar, desço para pegar os jornais antes de tomar café, mas vou com o telefone em punho para aproveitar cada segundo lendo notícias.
Mesmo quando cozinho, escuto rádio. Tiro as roupas da máquina e as dobro na frente da TV. Sem os colegas para alertar sobre os fatos novos com um grito no meio da redação, restam-nos os grupos onde compartilhamos informações em tempo real.
Agora mesmo, enquanto escrevo este relato, pisca na tela um alerta: morreu a nona vítima da covid-19 no Rio Grande do Sul. Não é uma “idosa” como dizem os que relativizam o poder devastador do vírus. É uma técnica de enfermagem de 44 anos, Mara Silva Caceres, que trabalhava no Grupo Hospitalar Conceição. É a primeira profissional de saúde a tombar em combate no Estado.
Por mais que acompanhe a evolução da pandemia de coronavírus desde janeiro, e saiba quão alto é o índice de contaminação entre os profissionais da saúde, fiquei abalada. Tive vontade de ir para a janela aplaudir esses bravos trabalhadores que se dedicam a salvar vidas.
Fechamos hoje três semanas de trabalho em casa. Meu marido e meus dois filhos também passam o dia na frente do computador, o que transforma este apartamento numa pequena usina de produção de textos, vídeos, marcas e produtos de design visual.
Cada um à sua maneira, fomos nos adaptando. Minha filha diz que sente saudade do tempo em que eu chegava em casa. Porque podia ser tarde, mas a partir daquele momento o máximo que eu fazia era dar uma olhada no celular. Às vezes até víamos algum filme ou série. Foi ela quem me apresentou Modern Family.
Ontem não consegui escrever o diário. Estava exausta e com dor de cabeça depois de acompanhar o vaivém em torno do futuro do ministro Henrique Mandetta, que afinal acabou ficando no cargo. Foi a vez de Luiza inverter os papéis e me tirar do computador, guardar o celular e me obrigar a ver um filme.
Para me distrair, escolheu Forrest Gump, um dos seus filmes preferidos. Juntinhas, curtimos cada cena magistral do jovem Tom Hanks (que por acaso testou positivo para a covid-19 na Austrália, mas, felizmente, está curado).
Hoje deveria ter nova sessão de cinema. Não teve. Acabei me envolvendo com as notícias e prometi que amanhã vou me organizar para terminar o dia vendo uma comédia.
Nesta terça-feira, 7 de abril, o balanço das 17h apontava 114 mortes em 24 horas em todo o país. Já são 667 vidas perdidas, mas os negacionistas seguem tratando a covid-19 como uma gripezinha que só mata idosos ou quem já ia morrer mesmo de outras enfermidades, ainda que o perfil das vítimas mostre que não é bem assim.
O sistema de saúde do Amazonas está à beira do colapso. Em Porto Alegre, um estudo mostra que o isolamento social conseguiu evitar 2 mil internações. Os hospitais ainda têm vagas, mas as previsões para os próximos dias são sombrias. Com o outono veio o frio (agora faz 16°C) e com ele o temor das doenças respiratórias.
É noite de lua cheia e, olhando para a estante de livros diante dos olhos, me ocorre que talvez seja útil escolher todos os dias um livro para sugerir aos chegaram até aqui. O de hoje é O Fator Chruchill, escrito por ninguém menso que Boris Johnson, o primeiro-ministro britânico que está na UTI do St. Thomas Hospital, lutando contra a covid-19.