A nova leva de mensagens trocadas entre integrantes da força-tarefa da Lava-Jato e divulgadas pelo site Intercept nesta terça-feira (18) à noite traz mais uma complicação para o ministro Sergio Moro, que hoje será interrogado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado.
Trata-se de um curto diálogo travado entre Moro e o procurador Deltan Dallagnol em 17 de fevereiro de 2017. Seria uma conversa banal, em que o juiz comenta a fragilidade de indícios contra o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, por caixa 2 na eleição de 1996, mas Moro escreve uma frase comprometedora:
Moro – 09:07:39 – Tem alguma coisa mesmo seria do FHC? O que vi na TV pareceu muito fraco?
Moro – 09:08:18 – Caixa 2 de 96?
Dallagnol – 10:50:42 – Em PP (princípio), sim, o que tem é mto fraco
Moro – 11:35:19 – Não estaria mais do que prescrito?
Dallagnol – 13:26:42 – Foi enviado pra SP sem se analisar prescrição
Dallagnol – 13:27:27 – Suponho que de propósito. Talvez para passar recado de imparcialidade
Moro – 13:52: 51 – Ah, não sei. Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é importante.
É essa última frase que deixa mal o mocinho da Lava-Jato. Porque não cabe ao juiz sugerir ao Ministério Público que poupe o ex-presidente para não melindrar alguém “cujo apoio é importante”. Também fica mal a Lava-Jato por ver exposta, na fala dos procuradores, a suspeita de que o nome de FHC só apareceu para dar uma falsa impressão de imparcialidade.
Para os procuradores, há outros problemas no material que trata de FHC. O caixa 2 de 1996 estaria, de fato, prescrito. Mas há troca de informações sobre doações da Odebrecht/Braskem para o Instituto FHC, tabela detalhando depósitos que somam R$ 975 mil, cópias de e-mails de pessoas ligadas ao ex-presidente e documentos e sugestões para que os fatos sejam investigados. Esses não estariam prescritos. A situação se complica mais em conversa entre os procuradores Roberson Pozzobon, Paulo Galvão, Laura Tessler e Diogo Castor de Mattos.
Às 20h29min de 17 de novembro de 2015, Roberson, Galvão e Laura discutem a conveniência de investigar no mesmo pacote doações feitas ao Instituto FHC e ao Instituto Lula, para mostrar que a força-tarefa está sendo imparcial. Laura se empolga com um e-mail de Anna Mantovani tratando de doações da Braskem para o IFHC:
– Sensacional esse e-mail.
Às 21h44min, Diogo alerta:
– Será que não será argumento para a defesa da LILS (a empresa de palestras de Lula) dizendo que é a prova que não era corrupção?
Roberson responde:
– Pensei nisso também. Temos que ter um bom indício de corrupção do FHC/PSDB antes.
As doações para o IFHC acabaram ignoradas pela força-tarefa. Lula foi denunciado em 2018 pela compra de um terreno pela Odebrecht, para a construção da futura sede do Instituto Lula, que acabou não se consumando.
Aliás
Ainda que tenham sido obtidos de forma irregular, os diálogos divulgados pelo site The Intercept Brasil acabam por comprometer a credibilidade da Lava-Jato e reforçam o discurso do PT de que os tucanos eram poupados nas investigações.