Em três meses de governo, os herdeiros de Jair Bolsonaro tiveram tanto protagonismo que já se pode prever um livro ou filme com o título Todos os Filhos do Presidente, parafraseando Carl Bernstein e Bob Woodward, autores do célebre Todos os Homens do Presidente.
Numerados pelo pai desde antes da fama, os filhos influentes no governo e ativistas de internet vão de “Zero Um” a “Zero Três”, começando pelo senador Flavio Bolsonaro, autor do último tuíte polêmico, aquele em que sugeriu que o Hamas “se exploda” (e que apagou diante da repercussão negativa).
O Zero Dois é Carlos, vereador no Rio, senhor do raio e do trovão nas redes sociais, com influência nos perfis do presidente. Eduardo, o Zero Três, é deputado federal e dublê de ministro das Relações Exteriores. Na recente viagem do pai aos Estados Unidos, apareceu mais do que o chanceler Ernesto Araújo, criação dele e do guru Olavo de Carvalho, a quem o general Hamilton Mourão chama de “astrólogo da Virgínia”. Participou do encontro com Donald Trump e fez manifestações de apoio à construção do muro na fronteira com o México.
Nestes três meses, cada um já acumulou sua cota de confusão, a ponto de ministros e aliados perderem a paciência e apontarem o risco de o governo sofrer derrotas no Congresso por conta da imprudência dos filhos. O quarto, Jair Renan, é um discreto estudante, que só virou notícia porque teria namorado a filha do policial reformado suspeito de matar Marielle Franco (ele diz que namorou todas as meninas do condomínio e não lembra dessa). A única que não dá preocupação é a caçula Laura, de oito anos.
Até o episódio do Hamas, Flavio andava discreto nas redes sociais, até porque sua preocupação eram as movimentações financeiras atípicas do motorista Fabrício Queiroz e sua relação com milicianos. Acompanhante do pai na viagem a Israel, também apareceu mais do que o chanceler e resolveu guerrear com o Hamas pelo Twitter, para desespero da ala que não quer briga com os árabes e não acha prudente provocar terroristas que se explodem em nome de Alá.
É Carlos, porém, o motivo permanente de preocupação dos aliados, pela influência que exerce junto ao pai. Na mais recente confusão, fez provocações ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e colocou em risco a articulação pela reforma da Previdência. Aconselhado a não brigar com Maia, voltou a atacar a imprensa, um dos seus esportes preferidos.