Escolhido para a chefia da Casa Civil por ter sido um dos primeiros deputados a apoiar Jair Bolsonaro, contrariando a orientação de seu partido, o Democratas, Onyx Lorenzoni assumiu o cargo enfrentando fogo amigo. Uma semana depois, é um pagamento atípico à empresa Office, do técnico em contabilidade Cesar Augusto Ferrão Marques, detalhado pelos repórteres Fábio Schaffner e José Luis Costa, a nova pedra no sapato do ministro encarregado de fazer a interlocução com o Congresso. De 2009 a 2018, como deputado, Onyx apresentou à Câmara 80 notas de consultoria tributária da empresa Office, no valor de R$ 317 mil.
Antes da posse, adversários internos diziam nas redes sociais que o deputado gaúcho não subiria a rampa como ministro. Outra corrente usava a expressão "não sairá dos boxes". A resistência tinha a ver com a confissão de uso de caixa 2 na campanha, uma doação não contabilizada do Grupo JBS, e com as tradicionais disputas de beleza em montagem de governo. Onyx assumiu e terminou a primeira semana tendo de apagar incêndios. Na sexta-feira, coube a ele dar entrevista e dizer que Bolsonaro tinha se equivocado ao anunciar o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras e a redução da alíquota máxima do Imposto de Renda da Pessoa Física, de 27,5% para 25%.
O caminho natural seria o ministro da Economia, Paulo Guedes, desmentir as duas medidas, mas sobrou para Onyx a tarefa. Guedes cancelara um compromisso público para não ter de falar sobre IOF, Imposto de Renda e idade mínima para a aposentadoria, aventada por Bolsonaro, e que contraria a ideia de uma reforma robusta. Mesmo tendo feito o necessário papel de bombeiro, Onyx ficou com o ônus de desmentir o presidente e recomeçaram os ataques na trincheira bolsonarista, com sugestões de demissão do ministro para poder aprovar as reformas.
A relação atípica com o contador, que emitiu notas fiscais em sequência, a título de consultoria tributária paga com a verba de gabinete a que cada parlamentar tem direito, deixa o ministro ainda mais vulnerável. Ainda que seja movimentação completamente diversa da que envolve o motorista Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flavio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio, a associação será inevitável. Porque o serviço de "consultoria tributária" correspondente ao pagamento não aparece na produção de Onyx como deputado.
Consultoria é uma despesa envolta em sombras nas prestações de contas de boa parte dos deputados. Não é preciso explicar que trabalho exatamente foi feito. O problema de Onyx são as notas sequenciais e com os mesmos erros de português, como se fosse o único cliente de um escritório de contabilidade cujo dono é um companheiro de partido, que presta serviços ao DEM e a seus candidatos, na prestação de contas das campanhas eleitorais.
Aliás
No episódio do caixa 2, Onyx Lorenzoni assumiu o erro, pediu desculpas e obteve a compreensão do colega Sergio Moro. Agora, diz que o problema de numeração das notas é do técnico contábil.