Na breve entrevista que deram ao Jornal Nacional, na noite desta segunda-feira, por videoconferência, os candidatos Jair Bolsonaro e Fernando Haddad mostraram preocupação em abrandar o discurso e tirar da agenda temas que podem subtrair votos no segundo turno. Por sorteio, Haddad foi o primeiro a falar. Questionado sobre a proposta de seu plano de governo, de convocar uma Constituinte para aprovar as reformas que o Congressos não consegue fazer por emendas, respondeu de pronto:
— Nós revimos essa posição e vamos fazer as reformas por emenda à Constituição.
Entre as mudanças, citou a redução da carga tributária e a revogação da emenda que fixou o teto de gastos, aprovada no governo de Michel Temer.
Antes, a apresentadora Renata Vasconcellos lembrou que, de acordo com a própria Constituição, o presidente não tem poder para convocar uma Constituinte. Perguntou, também, o que ele tinha a dizer sobre a frase de José Dirceu "vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar a eleição", dita ao jornal espanhol El País.
— Discordo do que ele disse. O ex-ministro não faz parte da minha campanha e não fará parte do governo.
Entrevistado logo em seguida, Bolsonaro começou agradecendo aos quase 50 milhões de eleitores que votaram nele domingo, citando nominalmente as lideranças evangélicas, homens do campo, caminhoneiros, integrantes das Forças Armadas e família brasileira. Dirigindo-se aos eleitores do Nordeste, disse que que não vai acabar com o Bolsa Família. Acrescentou que todos podem ficar tranquilos, que não pretende recriar a CPMF e que sua proposta é isentar de Imposto de Renda quem ganha até cinco salários mínimos e adotar a alíquota única de 20% para quem ganha acima desse valor.
O apresentador William Bonner confrontou o candidato com a afirmação do candidato a vice, Hamilton Mourão, de que a Constituição de 1988 foi um erro e sugeriu que seja reescrita por um conselho de notáveis, com o texto final referendado pelos eleitores. Também perguntou o que o general quis dizer quando falou na possibilidade de um autogolpe.
— Ele é general, eu sou capitão, mas eu sou o presidente. Desautorizei nesses dois momentos. Ele não poderia ir além daquilo o que a Constituição permite. Jamais eu posso admitir uma nova Constituinte, até por falta de poderes para tal. A questão do autogolpe, não entendi direito o que ele quis dizer, mas isso não existe, Se estamos disputando as eleições, é porque acreditamos no voto popular. Seremos escravos da Constituição. Repito: o presidente será o senhor Jair Bolsonaro. Quem nos auxiliará será o general Augusto Mourão. O general sabe bem da responsabilidade que tem em razão da sua escolha de ser o vice e não pode ir além. O que falta um pouco ao general é tato na convivência política. Ele rapidamente se adequará.
Na sequência da resposta, voltou a chamar o general Hamilton de Augusto:
— José Augusto Mourão, eu agradeço a sua preocupação, mas nesse momento ele foi infeliz. Ele deu uma canelada.
O candidato disse que vai emendar a Constituição para reduzir a maioridade penal, por exemplo.