Com uma hora e meia de duração, o Roda Viva, da TV Cultura, seria uma oportunidade ímpar para conhecer as propostas do candidato Jair Bolsonaro (PSL), que tem dado raras entrevistas nesta fase que precede o início da campanha. Não foi. Quem assistiu ao programa continuou sem saber como ele pretende lidar com questões relevantes como economia, saúde e educação.
Parte dessa frustração de expectativas é responsabilidade dos jornalistas, que focaram mais no passado controverso do candidato do que nos planos para o futuro. Parte é culpa do próprio, que deu respostas rasas e debochadas para perguntas pertinentes.
Questionado sobre economia, fez questão de reafirmar sua ignorância no tema:
– Vou perguntar lá no Posto Ipiranga.
Posto Ipiranga é o economista Paulo Guedes, a quem o candidato transfere a responsabilidade por pensar os detalhes da política econômica. Nacionalista recém convertido ao neoliberalismo, Bolsonaro defendeu as privatizações, a redução de impostos e o fim das cotas raciais – não só para valorizar a meritocracia, mas por questionar a escravidão.
Assim como na economia, deixou para os futuros ministros explanar planos para saúde, educação, ciência e tecnologia.
Questionado sobre o aumento da mortalidade infantil – e como fazer para reduzi-la – respondeu:
– Quando se fala em mortalidade infantil, isso tem a ver com os prematuros. É muito mais fácil um prematuro morrer do que um bebê que cumpriu uma gestação normalmente. Medidas preventivas de saúde…
A jornalista Maria Cristina Fernandes interrompeu:
– Isso não tem muito mais a ver com saneamento básico?
– Tem um mar de problemas (…) Muita gestante não dá bola para a sua saúde bucal ou não faz os exames do seu sistema urinário com frequência.
É provável que Bolsonaro não tenha perdido um voto sequer com as respostas confusas que deu no Roda Viva. Não se sabe se ganhou algum. Nas redes sociais, seus seguidores avaliaram que “o mito arrasou” e “deu uma surra nos jornalistas comunistas”, como são chamados os repórteres que fazem perguntas incômodas.