![André Ávila / Agencia RBS André Ávila / Agencia RBS](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/23523934.jpg?w=700)
Senhor prefeito,
Espero que o senhor entenda a forma escolhida para tratar deste assunto que estraga a quinta-feira (7) de quem valoriza os livros na Capital que está sob sua administração desde janeiro de 2017. Adoto o formato de carta aberta porque acredito que os leitores deste espaço gostariam de saber o que está acontecendo. Também acredito, sinceramente, que sua equipe não tenha lhe passado a dimensão do que significa inviabilizar a Feira do Livro pela cobrança de uma taxa de R$ 179.849,60 a título de licenciamento. Na prática, prefeito, o senhor está querendo cobrar aluguel da Praça da Alfândega para instalar as barracas que tornam o Centro Histórico mais rico a cada início de novembro.
Talvez o senhor não saiba, porque é muito jovem, mas a Feira do Livro de Porto Alegre nasceu em 1955. Está na Wikipedia. É uma das mais antigas do Brasil e a maior realizada a céu aberto. Eu a frequento desde 1978, quando migrei para Porto Alegre. Naquele tempo era a céu aberto mesmo, e a gente se protegia do sol à sombra dos jacarandás em flor. A gente se molhava quando chovia para passear entre as bancas ou apenas para ver nossos autores preferidos quando não tinha dinheiro para comprar livros. No século passado, prefeito, eu vi Mario Quintana autografando na Praça da Alfândega. O senhor tem ideia do que isso significa para uma pessoa que do poeta só conhecia os versos? Fiquei duas horas na fila de Mario Vargas Llosa. Assisti ao desfile dos nossos melhores autores pelas alamedas. Testemunhei a emoção dos patronos e patronas que emprestaram sua energia para o sucesso da feira.
Nos últimos anos, a feira cresceu e ganhou cobertura de plástico transparente para proteger as milhares de pessoas que por ali circulam durante duas semanas. Nunca se teve notícia de que a prefeitura tenha cobrado taxa dos livreiros. No ano passado, seu primeiro ano de governo, lembro que houve um princípio de impasse porque sua equipe entendia que, sendo um "evento privado", não tinha obrigação de recolher o lixo.
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Neste ano, veio a surpresa com a cobrança da taxa de quase R$ 180 mil. Os burocratas do Escritório de Licenciamento podem até achar que a Feira do Livro é um evento privado como qualquer outro. Espero que seu secretário de Cultura, Luciano Alabarse, mostre ao senhor que não é. Que é falsa a ideia de que os livreiros ganham rios de dinheiro porque o público que circula pela praça é expressivo.
Ledo engano, prefeito. Ser livreiro no Brasil hoje é quase um ato de heroísmo. Converse com os livreiros e o senhor saberá que alguns pagam para estar na praça, porque não querem perder contato com seu público e com os futuros leitores. O senhor saberá que nem todo mundo que vai à Feira do Livro faz compras.
Não sei se o senhor alguma vez já viu o brilho nos olhos das crianças levadas à Feira do Livro por professores que entendem o valor da literatura. Sugiro que vá neste ano, se a sua gestão não matar a Feira do Livro por imperícia. Leve seus filhos à Feira do Livro, prefeito. O senhor não vai se arrepender. Antes, sugiro que converse com a sua equipe e que encontre uma forma de resolver o impasse. Se a Feira do Livro morrer por intransigência do seu governo, o senhor carregará esse cadáver pelo resto da sua carreira política.