Em qualquer eleição, as pesquisas de intenção de voto devem ser lidas com a ressalva de que retratam aquele momento específico da disputa. Na eleição presidencial deste ano, com o quadro indefinido como está, os resultados têm de ser relativizados. A liderança do ex-presidente Lula (PT) na pesquisa CNT/MDA, com 32,4% na única simulação de primeiro turno em que seu nome aparece, revela que nenhum dos pré-candidatos conseguiu, até agora, conquistar corações e mentes da maioria dos eleitores.
Jair Bolsonaro (PSL), que aparece em primeiro lugar em todos os cenários sem a presença de Lula, tem metade das intenções de voto do ex-presidente (16,7%) quando o nome dos dois aparece na mesma cartela. Sem Lula, Bolsonaro oscila entre 18,3% e 20,7%.
Tais números não deveriam ser motivo de pânico para quem não gosta dele (e não são poucos) nem de comemoração para seus apoiadores, que incorporaram nas redes sociais o espírito do “já ganhou”. Por essa época, em 2014, Dilma Rousseff tinha 40%, Aécio Neves, 20%, e Eduardo Campos, 11% em pesquisa do Ibope. Comparando os resultados das duas pesquisas, a conclusão óbvia é que a eleição ainda não entrou no radar da maioria dos eleitores.
O excesso de candidatos de perfil semelhante acaba por favorecer Lula, que, para o bem ou para o mal, é o nome mais falado desde 2016. Só que Lula está preso, dificilmente poderá ser candidato, e o PT bloqueou a discussão sobre o lançamento de uma alternativa ou de apoio a um concorrente de outro partido.
Com isso, acaba por beneficiar Bolsonaro, um pré-candidato de quem se conhecem apenas a atuação controvertida na Câmara e o discurso focado na segurança. Suas propostas para a área econômica e sua opinião sobre as reformas ainda são ignoradas pelos eleitores, até porque não as expressou com clareza.
A tendência é de enxugamento do número de candidatos, dadas as dificuldades para levar adiante uma campanha de curtíssima duração, sem doações de empresas. Como as convenções vão até 5 de agosto, e a campanha começa de fato no dia 15, os próximos dois meses serão de costuras e definições. Com a saída de Joaquim Barbosa (PSB), que nem figurou na pesquisa, o espaço para o surgimento de uma novidade ficou mais estreito.
Aliás
A pesquisa espontânea, sem apresentação de um cartão com o nome dos concorrentes, mostra que 61% não indicaram candidato: 39,6% estão indecisos e 21,4% disseram que pretendem votar nulo ou em branco.