Há duas interpretações possíveis para a carta do ex-presidente Lula, deixando o PT à vontade para “tomar qualquer decisão” sobre a candidatura à Presidência:
1. Lula enfim compreendeu que não poderá ser candidato, porque não sairá tão cedo da cadeia e porque a Lei da Ficha Limpa o impede de concorrer;
2. Lula fez uma jogada para forçar a direção do PT a reafirmar que o candidato é ele e que não existe plano B.
O texto foi lido pela presidente Gleisi Hoffmann na reunião do diretório do PT, em Curitiba. O ex-ministro Alexandre Padilha postou em seu Facebook um trecho da leitura: “... ficassem totalmente à vontade para tomar qualquer decisão porque 2018 é muito importante para o PT, para a esquerda, para a democracia. E para mim, eu quero a minha liberdade”.
Os petistas interpretaram a mensagem como “um gesto formal de desprendimento”. O diretório aprovou um indicativo de apoio a Lula e marcou para o final de julho a convenção para formalizar sua candidatura ao Planalto. Gleisi tem dito que a candidatura será registrada no dia 15 de agosto, data-limite prevista na legislação.
Embora na carta Lula demonstre satisfação com o resultado da pesquisa Datafolha em que lidera a disputa nos três cenários em que seu nome foi incluído, uma frase pode ser interpretada como a deixa para o PT indicar outro candidato ou apoiar um nome de outro partido, capaz de unir a esquerda. É o trecho que diz “porque 2018 é muito importante para o PT, para a esquerda e para a democracia”.
Na solidão do cárcere, Lula pode ter se dado conta do risco de desafiar a Lei da Ficha Limpa e acabar contribuindo para o aniquilamento da esquerda ou para a eleição de um candidato sem compromisso com a democracia. Caso lance a candidatura e o registro seja negado, não haverá tempo para construir uma alternativa. Se concorrer amparado em uma decisão judicial provisória e, ao final, o Tribunal Superior Eleitoral negar o registro, seus votos serão anulados.
Na prisão, Lula expressou o desejo de receber Ciro Gomes, pré-candidato do PDT. Ciro disse que gostaria de visitar Lula, mas a Justiça não abriu exceção à regra que só permite receber visitas da família.
Aliás
A Justiça não pode permitir que o cárcere de Lula vire uma subsede do PT, mas há um evidente exagero em não permitir a visita do Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, depois de ter autorizado Eduardo Cunha a receber Carlos Marun e um pastor evangélico.