Diante da prisão iminente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os líderes petistas agem como se as leis aprovadas nos últimos anos, assim como as decisões do Supremo Tribunal Federal, valessem para os outros brasileiros, mas não para o seu comandante. Agem como se o fato de Lula estar em primeiro lugar nas pesquisas autorizasse o tratamento diferenciado.
Quando em 2010 o Congresso aprovou a Lei da Ficha Limpa, estabelecendo que ficariam inelegíveis os cidadãos condenados por colegiado, os parlamentares petistas não só votaram a favor, como fizeram manifestações explícitas em defesa desse dispositivo, considerado moralizador da política. Quando em 2016 o Supremo Tribunal Federal definiu que era possível iniciar o cumprimento da pena de prisão depois de condenação em segunda instância, foram escassas as vozes que se levantaram, dentro do então governo, contra a interpretação dos ministros.
A Secretaria Especial dos Direitos Humanos, órgão do Planalto, posicionou-se contra, alinhada com a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Os maiores críticos da decisão eram os ministros do Supremo derrotados pelos colegas. Defensor da tese de que a prisão antecipada fere o princípio constitucional da presunção da inocência, Marco Aurélio Mello chegou a sugerir que o Estado pagasse indenização a pessoas presas de acordo com a nova regra e depois absolvidas por instâncias superiores.
— Mil vezes um culpado solto, do quem um inocente preso — disse Marco Aurélio, após a votação.
Decano do Supremo, Celso de Mello disse que "a impunidade no país não se resolve com prisão antecipada, mas com melhores condições de investigação, de maneira que os crimes sejam solucionados antes de prescreverem".
Ministro da Justiça à época, José Eduardo Cardozo foi na contramão da Secretaria de Direitos Humanos. De acordo com texto produzido pela insuspeita Agência Brasil, publicado em seu site às 16h02min do dia 16 de fevereiro de 2016, o então ministro de Dilma Rousseff disse que "não cabe ao governo fazer juízo de valor" sobre a decisão dos ministros: "É uma decisão e tem de ser respeitada".
A preocupação de Cardozo era apenas com o impacto da medida no sistema penitenciário, conforme a reportagem: "Agora, temos que fazer análises dos números, dos impactos, dialogar com as autoridades judiciais, com o Ministério Público, como comecei a fazer, justamente para que possamos respeitar, dentro daquilo que está determinado em legislação, a decisão do STF”. Cardozo lembrou que "a maioria dos presídios são administrados pelos Estados, com exceção de quatro federais".
Dois anos depois, com Lula condenado em segunda instância e às vésperas do julgamento dos embargos declaratórios – último recurso cabível no TRF4 –, os líderes do PT tratam a provável prisão do ex-presidente como um ataque à democracia. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, conclama os petistas e os movimentos sociais a lutarem. O jornal Folha de S.Paulo registra que, na segunda-feira, ao abrir um seminário sobre segurança pública, Gleisi disse que o partido vai com Lula "até as últimas consequências" e não aceitará de braços cruzados a prisão:
— Se eles querem trucar, saber se vamos pagar, nós vamos pagar para ver. Não vamos aceitar mansamente a prisão do Lula.
Ontem, em seu perfil no Twitter, a deputada Maria do Rosário escreveu: "É inaceitável q de dentro das instituições venha +1 golpe tão duro contra a população. Lula é a esperança de milhões. Sua prisão sem crime provado e condenação definitiva pelo STF é um ataque vil contra ele e contra o povo brasileiro q o quer presidente. Basta de perseguições!"
Os petistas alegam que Lula foi condenado sem provas. E desqualificam tudo o que o Ministério Público Federal e o Judiciário apresentam como provas de que o ex-presidente cometeu crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.