Às 16h33min do dia 10 de abril de 2017, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), garantiu no Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, que não seria candidato a presidente, como desejava boa parte da plateia, nem a governador. Que só era candidato a “ser um bom prefeito”.
Nos meses seguintes, Doria tentou, em vão, se viabilizar como alternativa à Presidência da República, o que enfraqueceu a figura do governador Geraldo Alckmin, enfim escolhido como representante do PSDB para a disputa.
Menos de um ano depois daquela passagem por Porto Alegre, Doria confirma que vai renunciar ao mandato que prometera até por escrito cumprir até o fim. Justificativa dada no Twitter:
“Pessoal, não posso negar essa importante convocação. A maioria absoluta dos representantes e lideranças do meu partido fez esse chamado. #SãoPaulo+SP”
O tuíte confirmando a disposição de interromper o mandato conquistado em 2016 foi publicado depois que Doria recebeu um abaixo assinado organizado pelo presidente da Assembleia Legislativa, Cauê Macris (PSDB), com cerca de 1,8 mil assinaturas pedindo ao prefeito para se inscrever na prévia do próximo domingo.
O discurso do PSDB é de que Doria está sendo convocado para uma espécie de missão, da qual não pode abdicar, mas o próprio prefeito vem dando, desde o ano passado, sinais de que a prefeitura foi apenas um trampolim para um salto mais ousado.
Presidente do PSDB Mulher e amiga de Doria, a deputada federal Yeda Crusius diz que o prefeito nunca pensou em ser candidato a presidente, como a imprensa interpretou no ano passado, época em que o prefeito fez uma série de viagens pelo Brasil:
— Tudo combinado. O candidato a presidente sempre foi o Alckmin. Doria agiu para tirar outros do caminho, mas o projeto era o governo de São Paulo.
Para o PSDB, a saída de Doria não chega a ser um problema, já que o vice-prefeito, Bruno Covas, tem laços mais sólidos do que ele com o partido. Bruno é neto do lendário Mario Covas, ex-governador de São Paulo e um dos fundadores do PSDB.
Doria repete, 12 anos depois, o que José Serra fez quando renunciou ao mandato de prefeito um ano e três meses depois de assumir o cargo, deixando a prefeitura nas mãos de Gilberto Kassab, então filiado ao PFL. Também Serra havia assumido, na campanha, o compromisso formal de cumprir o mandato até o fim. Os adversários alertavam que ele renunciaria para concorrer a governador. Serra jurava que não e chegou a assinar um documento comprometendo-se, caso fosse eleito, a cumprir o mandato até o fim. Em 1º de abril de 2006, renunciou dizendo que fazia um sacrifício:
— Se assumo o risco de sair do comboio que está em plena marcha, o faço para assegurar as condições para que continue progredindo. A meu ver, é a decisão correta. Pensei muito. Uma decisão difícil, a mais difícil que tomei na minha vida. Mas, embora arriscada, é necessária.
Cobrado por ter descumprido um compromisso, justificou assim:
— Naquele momento, eu disse a verdade. As circunstâncias passaram a ser outras. Naquele momento não tinha por que não assinar.
Naquele ano, Serra foi eleito governador de São Paulo no primeiro turno.
Em Porto Alegre, dois prefeitos renunciaram 15 meses depois de assumir a prefeitura para disputar o Palácio Piratini. Em 2002, Tarso Genro (PT) renunciou ao mandato conquistado em 2000 (ele já havia sido prefeito de 1993 a 1996), disputou o governo do Estado e perdeu para Germano Rigotto (PMDB). Em 2010, José Fogaça (PMDB), que havia sido reeleito em 2008 renunciou um ano e três meses depois da posse para tentar o Piratini em uma aliança com o PDT. Tarso Genro ganhou a eleição no primeiro turno.